Um baseado

Quero largar esse vício, não me diga que não tem como, essa droga me consome e me mata assim aos poucos em meio a tanto sofrimento.

Quero largar esse baseado, esse "fumaça de cigarro" que não me deixa em paz faz um bom tempo.

Eu ouço vozes toda vez que "trago" um desses.

São crianças, vejo mortos, vejo assaltos, vejo tudo girar quando não mais me vejo.

Eu passo por becos escuros, largo meu corpo quando encosto em algum muro.

Eu faço amigos, coisas que não durão quando se percebe que não há sentimentos, e sim nada mais que interesse nesse meu bornal cheio de "coisas ruins", que sempre trago comigo e que todo santo dia passo com medo de ser a próxima vítima a passar no telejornal, meus familiares me vendo em meio à um chão marcado com giz na televisão, e o repórter falando: mais um assalto dentro do ônibus, aqui na nossa capital .

Levaram de mim por um momento as esperanças, de que o amanhã seria bem melhor, levaram de mim minha infância, saiba que não cheguei a ser criança devido a tanto roubo que vi chegar a minha residência embalados como cartas e entregues aos meus pais.

Deixaram em mim cicatrizes para o amanhecer, saiba que nem se quer pude dormir e tive medo quis desistir, mas de cansada sentei ali e esperei mais uma vez o sol nascer.

Quero largar esse vício, deveria ser proibido, todo esse baseado em fatos reais, todo esse meu pensar.

Saiba que roubaram de mim a ignorância de ser apenas mais um ser desses por ai que vagam sem questionar os porquês da sua existência.

Saiba também que esse vício que me toma não tem cura, é feito um estupro, pois a realidade dói e vem quando você menos espera.

Então lhes digo é nesse baseado que insisto, pois sei que viverei sempre dopada e será sempre como um baseado que eu "tragarei" essas minhas ideias.

E ao finalizar o texto as 20h08 do dia 15 de dezembro, dentro de um ônibus me encontro e mais uma vez, não fui vítima, presenciei mais um assalto numa das nossas cidades brasileiras.

Triste realidade esse "baseado" em fatos reais.

Lleimaj D.