Saudade
Saudade pode ser apenas o começo de grandes amizades. Pode vir discreta, mas também pode nos arrasar como se fossemos apenas pó em meio a ventania. E somos pó. Voamos de um lugar a outro enquanto nossos laços se estreitam. Se rompem. Se reconstroem. Somos eternos em nossa mortalidade, pois cada um de nós é responsável por uma pequena mudança no mundo. Somos a matéria inseparável que algum Deus criou. Somos todos o mesmo pó. A mesma saudade. A mesma alegria, e a mesma solidão. E somos completos assim. E somos incompletos assim. E somos apenas assim. Apenas como saudades que voam, repousam por um tempo, e depois se vão. E vão. E vão. E lá estão bem longe todas as minhas saudades. Posso vê-las. Mas não posso senti-las, pois agora estou pronta para novas saudades, de novos mortais. Vá, e, quando voltar, diga-me se precisou de mim. Se sim, creio ser apenas minha costumeira presença que lhe faz falta, e não minha utilidade. Se não, vá novamente, mas não procure voltar, pois não lhe sou útil. Procure a próxima ventania, e peça a ela que te leve a um novo pó. Um que lhe seja agradável, e eu ficarei aqui, por enquanto, até achar uma nova saudade para poder partir.