Turbilhão de essência
Era exatamente ali, entre aquelas quatro paredes, com a luz baixa ao som de qualquer coisa que os fizessem se sentir vivos que eles passaram algumas noites onde podiam ser eles mesmo e soltar todos os demônios presos em suas almas, talvez ali eles pudessem falar de qualquer coisa sem serem apedrejados, talvez ali, eles sentissem o que não poderiam sentir durante os seus dias, como pessoas normais e ocupadas, talvez ali pudessem sentir como é pertencer-se a alguém.
- Sabe porque eu gosto de te beijar?
- Porque?
- Porque seu beijo é desesperado é como se estivesse procurando alguma coisa.
Ele se perguntava como uma virgem podia causar tanto tesão, e ela se perguntava como ele podia fazer todos os seus princípios de boa moça irem embora. Era uma mistura de alma, sentimentos, dor junto a vontade de encontrar o que sempre procuraram, mas de alguma forma era bonito tudo aquilo, era bonito ver duas almas, dois corpos, duas loucuras se encontrando.
Provavelmente eles nunca mais irão se ver, nem se tocaram, nem sussurraram o quanto é bom ter um corpo sobre o outro. Provavelmente, ele continuará com a sua vida agitada, tapando os buracos da alma com qualquer outra coisa...
Provavelmente ele será um desses cara normais engravatados, cheios da grana que andam por ai dirigindo e falando ao telefone. Provavelmente se casará com uma boa mulher e terá um sexo morno. Ele provavelmente será do mundo, mas nunca dela.
Já ela, ah ela! Continuará sendo a boa menina durante todos os dias e sendo ela mesmo durante todas as noites, continuará a tatear o amor em algum canto e escrevendo sobre caras que sempre vão embora, como ele foi.