O silencioso desepero
Quando as unhas estão em carne-viva é o momento de parar. É o desejo constante e insaciável, mordendo e arrancando com os dentes tudo aquilo que viria a ser mas não foi. Tudo aquilo que ficou na imaginação. É a vontade, é o desespero. É o desejo, é o medo. É a inquietação, ansiosa, querendo arrancar mais um pedaço de vida. É o coração pulsante, bombando sem motivo. Estrebuchando a inquietude.
Pensou em todas as coisas que poderia ter dito mas não disse. Tudo que poderia ter feito mas não fez. Sonhou que tinha feito, nunca mais quis acordar. Calmamente desceu as escadas, esquentou um café e foi beber na varanda... Pensou, pensou, pensou sem parar. Contemplou o vazio por horas,dias... Viu os dias se desfazendo na ponta dos dedos. Morrendo nos pedaços de unha e carne que um dia seriam varridos dali, como todos os universos paralelos que habitavam a sua mente, de todas as coisas que poderiam ter sido , de todas as palavras que se calaram, de todo o desespero que subitamente se exaltou silencioso.