VIDA: breve reflexão.
O hoje é o amanhã de ontem! O presente é o futuro do passado! Como maravilhosamente disse o filósofo e teólogo norueguês Soren Kierkegaard: “A vida só pode ser entendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para frente.”. Por quê? Porque não existe o agora! O agora é apenas um marco figurativo entre o antes e o depois, uma ficção, uma alienação!
Quem está “no momento” perdeu o momento e perde a chance de viver um momento! A realidade é cruel; o tempo, inclemente! A vida é o que já foi e o que poderá ser. O que tens e sente é o resultado das ações/omissões do passado. Fazer-se de vítima das circunstâncias é colocar a sua vida numa órbita tangente como se fosse possível sair de si mesmo. Tudo o que somos e temos é resultado direto ou indireto do que fizemos, optamos, pensamos e agimos de acordo.
Pare de implorar e lamentar! Pare de pedir o que está no âmbito de suas forças! Peça lucidez, peça meios, e não resultados! Epicuro disse com mais propriedade: “É estupidez pedir aos deuses aquilo que se pode conseguir sozinho.”.
A única pobreza que verdadeiramente devemos ter asco é a pobreza de espírito, própria do homem que tem perspectivas sem iniciativas, que acredita no futuro sem passado, que se fixa no mundo esperando e se lamentando, que quer mais e melhor sem riscos, desconfortos ou preocupações.
Mudar a realidade posta dá trabalho, claro! Mas o que está posto é apenas um resultado possível de uma série de variáveis: sempre pode mudar! O futuro são projeções, hipóteses, probabilidades, afirmativas potenciais, cabendo ao indivíduo errante decidir tomar as rédeas da sua vida. Exigirá disciplina, auto-confiança, controle emocional! Não há resultado mágico, essa é a vida: tudo aquilo que você está disposto a sofrer para realizar!
Desenvolva-se, viva todas suas potencialidades, seja tudo aquilo que possa ser, não fique adstrito a uma área do conhecimento e, por decorrência, a uma área de atuação. Nas palavras de Erich Fromm: “A principal tarefa do ser humano é dar à luz a si próprio. Tornar-se tudo aquilo que é potencialmente capaz.”. Portanto, pense ilimitado!
Só no livre movimento que poderás achas seu talento! As pessoas se permitem, no âmbito das relações interpessoais, o teste, a procura da felicidade no encontro da “alma gêmea”, mas não fazem o mesmo naquilo que de fato importa, pois lhe dará a tão procurada “paz de espírito”. Como disse o psiquiatra Victor Frankl, criador da logoterapia: a felicidade consiste em encontrar a razão da sua existência, em tornar-se consciente de sua tarefa nesse mundo e responsabilizar-se pela sua realização.
A não ser que descubras na maternidade/paternidade seu sentido existencial ou mesmo na simples comunhão diária com um parceiro a razão plenipotenciária da sua vida, a excelência do viver e a força motriz da existência continuarão a clamar por liberdade na abrangência do pensar e agir até se descobrir!
Afinal, o que é que fica nessa vida que só vai? A vida vai, mas o que fica dessa vida? Já se disse que a gente leva da vida a vida que se leva. Mas o que fica? A brisa, o vento tépido, a margem límpida, a bebida lépida, o petisco, a tocada leve, o riso ao longe, sensações, prazeres, reflexos estéticos? Ah, isso tudo vai! Quero saber o que fica! Que impacto minha vida está tendo no mundo para além da autorreferência? Existe algo? É positivo? É satisfatório? Traz sensação de completude?
Veja que a paz de espírito não é sinônimo de ausência de problemas e preocupações, mas estar disposto a enfrentá-los, não os vendo como um fardo inútil ou uma punição astral/divina/espiritual, mas como obstáculos na trilha firmemente escolhida, afinal “Ser feliz não é ter uma vida perfeita, mas deixar de ser vítima dos problemas e se tornar o autor da própria história.” (Abraham Lincoln).
O que é a vida senão a pureza do ser ciente que se debate à procura de seu sentido? O que você deixou para trás guardado em seus baús? Sonhos empoeirados? Realizações em potência? Vidas possíveis sem tempo e sem energia? Por quê? A pergunta segue: o que queres da vida? O que deverias estar fazendo com sua vida? O que dá completude, plenitude, alegria no simples estar?
Questione, duvide, angustie-se até que a variável material da vida de sensações seja trocada pela constante que lhe alimentará a alma!