AUSÊNCIA DE MIM
AUSÊNCIA DE MIM
É tão complicado falar de nós e de nossos sentimentos numa sociedade em que as pessoas estão preocupadas com suas próprias vivências e com seus próprios problemas.
Hoje, amanheci diferente e eu não diria triste, apenas ausente. Sinto uma ausência inquietante de mim mesma. Uma solidão que ataca cada osso e pele existente dentro e fora de mim, uma solidão que dilacera, que corrói e que faz pensar e repensar sobre a minha existência.
E o que fazer para me acalmar? Fingir como diria o poeta Drummond? Pensar em outras coisas? Fazer atividade física, leituras acadêmicas? Tão somente fica a dúvida dentro de mim e não encontro respostas.
Estou rodeada de pessoas, então porque me sinto tão sozinha? Percebo multidões a minha volta. Ouço vozes, risadas, sons, aulas e até diálogos próximos. Mas, essa solidão não é a ausência de pessoas, é a presença ausente. Uma presença incompleta, fria, insensata e distante. Uma presença de corpos com a alma distante. Assim sinto as pessoas, assim sinto a mim mesma.
Há um grito interno, há uma dor, uma falta de algo que não sei dizer exatamente o que é e o que se passa. Tento suprir com doces, com frases de amor, ouvindo músicas, buscando lembranças; mas no fundo tudo o que eu quero e busco é a presença. A presença de mim mesma. Uma busca incansável por algo que não é material, não é concreto e sólido. A busca de mim, para além de mim.
Busco por uma presença próspera, por um sorriso sincero sem malícia, maldade e engano. Almejo um colo de uma forma tão desesperada como se eu fosse uma criança frágil que certamente despencaria sozinha se não tiver a proteção que precisa.
E o que encontro? Apenas uma presença ausente. Talvez porque os presentes não percebam minha melancolia para além da competência profissional, espiritual e poética. Talvez eu seja presente apenas de corpo também e não consiga abrir a minha alma e chorar rios de lágrimas. Como almejo chorar, navegar por entre minhas lágrimas e ter um abraço sincero me dizendo que vai ficar tudo bem.
E o que fazer, se hoje, minha alma quer chorar? Mas, não posso parar meus artigos acadêmicos, não há como interromper a Dissertação de Mestrado e não há quem tenha seu tempo livre simplesmente para enxugar minhas lágrimas.
Então, apenas uso a melhor estratégia que aprendi: escrevo. A escrita, além de dom é uma fuga para acalentar a minha alma em busca de minha presença tão ausente.