Olhar para o lado

É incrível como a gente passa a vida inteira olhando pros lados.

Olhamos para atravessar a rua, quando cometemos um deslize, quando damos um logo e apaixonado beijo em alguém, quando rimos demais, quando nossas lágrimas insistem em descer, quando nos falta ‘aquela’ palavra num momento em que ela seria essencial, quando os argumentos acabam, quando procuramos um amigo, quando o consolo nos é pouco e desmedido.

E passamos tanto tempo esperando a resposta: com um olhar de aprovação, um sorriso de felicidade, um ‘abaixar’ de cabeça reprovando, um olhar curioso espreitando, um obrigado agradecendo.

E daí, esquecemos de olhar no espelho, tomar um banho quente e demorado, dizer ‘Eu te amo’.

Viramos as costas pro mundo, fechamos os olhos para a vida, e não respondemos aos nossos ímpetos.

Por medo, passamos uma vida de planos, sonhos, idealizações ocultas no desejo alheio, na aprovação exterior, do julgamento e aceitação da sociedade.

Prefiro eu olhar para baixo, e demonstrar o desgosto, o protesto, a tristeza, a negação.

Prefiro olhar pra cima, pedir aos céus, indagar a vida, procurar um consolo, enfrentar os medos.

Do que simplesmente, olhar para o lado.

Prefiro olhar pro meu próprio umbigo. Prefiro quebrar os espelhos de casa. Prefiro sustentar minha insolente mania de sorrir. Prefiro acalentar-me no arrogante impossível.

Do que simplesmente, olhar para o lado.

Prefiro dançar sozinha num palco sem música, sem platéia, sem luz. Prefiro declamar as métricas rimas de um poema, e dar acordes a um verso triste. Prefiro sonhar acordada e dormir até tarde; quebrar o despertador e despertar meu vizinho com uma música alta. Prefiro romper meus limites e limitar minha impaciência.

Do que simplesmente, olhar para o lado.

E quem saiba assim, eu não olhe mais para mim mesma?

Quem sabe assim, eu prefira não preferir ser preferida por ninguém.

E que me perdoem os críticos!

Mas ser feliz é bom, ter esperanças é necessário...e cometer loucuras: é imprescindível!

14/02/07