A minha cidade (Sorocaba) Feudal "Desabafo"

Sou nascido e atualmente resido em uma cidade chamada Sorocaba que fica situada no interior de São Paulo a cerca de 100 km da capital.

É uma cidade que possui cerca de 700 mil habitantes, pensa ser tão grande quanto Campinas ou até mesmo São Paulo, mas conversa traços da sociedade da Idade Média.

Eu, Guilherme, tenho 25 anos e atualmente trabalho com o mercado da Internet. Para a minha sorte, possuo um mentor que apesar de muito discreto é uma das pessoas mais competentes e sábias que eu tive o prazer de conhecer e tenho o suporte de alguns amigos que são alguns dos nomes mais renomados do Brasil na minha área (SEO).

A partir desse ponto eu começo a expor a minha insatisfação. Comecei a vender produtos relacionados ao mercado da Internet, que o meu mentor/amigo/sócio tem domínio e já trabalha em outros nichos de mercado por todo o Brasil.

Infelizmente expondo os produtos sempre surge aquela pergunta, como é seu nome e eu sempre respondo com o meu primeiro nome. Aqui em Sorocaba, essa pergunta sempre vem "acompanhada".

Fulano do que? Beltrano do que? Sicrano do que?

Outro dia eu estava sendo destratado por um corretor imobiliário com a voz exacerbada. Em um ponto da conversa, ele perguntou o meu nome e eu respondi, ao que ele fez a outra pergunta já devidamente mencionada, para a minha sorte eu tenho um sobrenome prestigiado na cidade e aqui vale fazer algumas ponderações:

Meu avô é ex juiz, desembargador, pelo que me dizem ex ministro do STJ apesar de ter ficado pouco, por livre opção. Dizem que ele foi o melhor criminalista de sua época e que reunia-se semanalmente com o então presidente Ernesto Geisel.

Nos quase 11 anos em que convivi com ele, nunca vi por uma única vez sequer ele se dizendo um homem de posses, ou dando a famosa "carteirada".

O mais próximo que ele chegou disso, foi uma vez que íamos a São Paulo e o funcionário da companhia de viagens negou-se a vender a passagem, pois a minha mãe havia esquecido a minha carteira de identidade e o mesmo alegou que se um juiz o pegasse ele teria problemas. Como era importante o que íamos fazer em São Paulo, o meu avô visivelmente contrariado, abriu a sua carteirinha da Receita Federal e disse educadamente que ele gostaria de viajar com o neto dele. O funcionário sequer respondeu, fez cara de medo e entregou a passagem.

Em seguida ele deu uma olhada silenciosa mais significativa para a minha mãe e a chamou pelo nome com a voz irritada por três vezes. Aquela era a sua maneira de dizer que ele estava emputecido com ela, apesar de parecer pouco, meu avô se fazia entender muito bem, até eu que era criança entendi o recado perfeitamente bem.

Meu tio é um dos médicos mais renomados do Brasil e do mundo e é a última pessoa no mundo que alguém poderá ouvir se "crescendo" pelo sobrenome que já era respeitado e ele tornou ainda mais. Eu penso que verei o "Apocalipse" antes de ver uma atitude desse nível da pessoa dele.

A fórmula de sucesso tanto meu avô quanto do meu tio, profissionais de excelência que eu sigo como exemplo foi ralar muito e se dedicar mais ainda.

Eu possuo dois tios, dentro dessa mesma família que não são bem sucedidos e vivem querendo ser mais que os outros pelo nome que outros construíram.

Na minha cabeça tudo é muito claro, qual exemplo eu devo seguir se eu almejo ter sucesso, dentro de qualquer função que irei desempenhar.

Quero olhar para trás e ter a certeza de que o meu avô se orgulharia de mim, pelo que eu conquistei com o suor do meu trabalho e não pelo que eu conquistei com o "suor do trabalho dele".

Quero ter o prazer de saber que tudo que eu conquistei foi fruto do meu trabalho e da minha dedicação e não da alheia, pois qualquer filho, neto ou parente de alguém com "nome forte" pode conseguir coisas sem ser pelo seu próprio merecimento, pelo menos aqui em Sorocaba sim. Eu gosto de me sentir "diferente" das demais pessoas.

Honrar a memória do meu avô é algo que me seduz muito, ser reconhecido por méritos próprios também.

Quando me perguntam o meu sobrenome eu tenho vontade de dizer que eu sou filhos de dois ET'S vindos de Marte e por esse motivo, ficou inviável que eu fosse registrado, ou que eu fui abduzido e infelizmente por esse motivo eu não me recordo quem são meus pais, ou ainda que eu fui abandonado na rua e que por esse motivo eu não fui registrado e por esse motivo eu não disponho de sobrenome.

Tão ultrajante quanto degradante é ter que passar por uma situação dessas.

A fórmula eu ainda estou procurando, mas está complicado viver nesse feudalismo velado em pleno mundo globalizado e século 21.

Gui Machado
Enviado por Gui Machado em 08/11/2015
Reeditado em 12/11/2015
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