Algo sobre a brevidade e a inconstância da vida
Sim, os seres humanos são suscetíveis às emoções. Retas se curvam com sensações que exigem ao máximo dos sentimentos. Sorrisos que apresentam uma imagem de felicidade inacabável dão lugar ao pranto inesgotável de um instante para outro. Essa inconstância pode ser bem cruel, mas é o mais próximo que se pode chegar de um diagnóstico fiel daquilo que se é. Sei de pessoas que vivem uma vida inabalável, cobertas de segurança e de tranquilidade num dia, mas que bastam um vento contrário e um breve abalo na maré, para que sucessões de acontecimentos terríveis e até então inesperados as assolem. Sei também de gente que está à beira da morte ou no grau zero da falência, que conseguem encontrar um caminho diferente, para, assim, poderem mudar o rumo de suas vidas e darem literalmente a volta por cima. O que, há de fato, é um pêndulo de emoções, sensações e acontecimentos que insiste em negar qualquer determinação de uma vida, qualquer fixidez de uma trajetória humana. Não se tem crença que apague uma descrença totalmente. Não se tem confiança que não possa ser abalada. Não existe certeza que não possa ser incomodada com a mais singela dúvida. Para poetas da antiguidade e da idade média, a vida se comparava a um barco à vela, cuja condição de ser levado pela natureza e de estar sob constante movimentação era o ponto mais em comum. O carpe diem pode ser uma saída e para muitos foi posto em prática. No entanto, o plano de viver o hoje só pensando em hoje nem sempre é o suficiente para uma alteração profunda na vida de alguém que já passa por uma grande tormenta. Até a mudança tem o seu próprio tempo, sobretudo aquela que é intencional. Por isso, os ventos mudam de direção constantemente. Por isso, as pessoas alteram seus planos de rota com muita frequência. Porque não sabemos de nada, como já dizia Fernando Pessoa. Não podemos querer saber nada. O que resta à pequenez humana é esta sensação de estar pegando no éter, de estar dormindo acordado, de estar ouvindo mesmo no silêncio. Pode ser até pouco para muitos, mas é isso que nos faz querermos mais a toda hora. Sempre mais! Acho que lutar contra o balanço do mar, contra a força do vento, contra o movimento incessante da roda gigante é o esforço inútil e necessário da sobrevivência. Mesmo sabendo ineficaz a perpetuação do instante, insistimos na reprodução das memórias. Mesmo sabendo doloroso o cultivo do amor eterno, insistimos na entrega suicida do nosso coração. Não sejamos barquinhos de papel inocentes rumo ao desfiladeiro das cataratas logo à frente, mas caravelas imponentes que cruzam o “Triângulo das Bermudas” em busca do sempre desconhecido, ainda que se sabendo frágeis e demasiadamente fugazes.