Morte

É ridículo o pensamento de que todos iremos morrer sozinhos. Ninguém morre sozinho. Pode até parecer que o único a morrer foi você, mas não.

O seu pai morre contigo. A sua mãe também. A sua avó, nossa, essa também morre contigo. Assim como suas irmãs. Aquele menino que te chamou "ei, cara" no colégio, quando você ainda era aluno novo, e depois se tornou seu grande amigo, também morre contigo. A sua professora que vivia dizendo "você tem resposta pra tudo", a que dizia "não estou nos meus bons dias", e até o professor que falava "fora!" vão morrer todos contigo. O seu tio natalino do "é pavê ou pacumê?" também morre contigo. Sua vizinha que adorava cuidar da sua vida ao invés da dela, morre contigo.

Não é porque você foi o único ferido que ninguém mais sentiu a dor. A dor de quem fica e só observa a partida.

A menina sardenta da quinta série, ou mais conhecida como seu primeiro amor, ela morre contigo também. Seu namorado do colegial, que todo dia te beijava na saída da escola, ele morre contigo. E chora. O seu cachorro, Caco, ele sente sua falta, fica amoado, não come, choraminga e morre contigo também. Sua chefe morre contigo.

É toda uma imensa teia formada durante a vida, rápida e passageira.

Ninguém morre sozinho; mas todos o faremos.

Kaíque Campos
Enviado por Kaíque Campos em 02/11/2015
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