Gaze negra.

Sou inconsequente e tenho desabafado pras paredes sobre esses meus pensamentos insanos de abrir o seu corpo pra saber que tu és viva - e não uma criação desordenada do meu ambiente insano, do qual eu vivo e me alimento diariamente. "Suas tragédias são criadas em pêlos de animais. São sujas, alimentam-se de pulgas e de todos os passos do tempo; inclusive, o fétido torpor que os mesmos guardam por mofarem em seus próprios locais" - ouvi a frase com cuidado, pensei em me cobrir com terra, morrer por sufocação e coisas similares. Notei que só basta um sopro pra que eu suma - uma vez que já fui queimada, as cinzas permaneceram como um confete pras lembranças das quais eu faço parte (se ainda houverem lembranças). Morro de inveja dessas pessoas mortas, que não me devem mais satisfações - e que, como a mais repentina fábula, revelam que são mais humanas em um coração de carne podre como o meu. Projeções decadentes, sonhos desmoronando e mentiras - muitas delas. Não suporto essa mão áspera, fingindo acariciar meu rancor e desentendimento sobre a vida; seus cabelos parecem querer serrar os meus pulsos a cada momento de certeza; quisera eu não tê-la tomado como cálcio. Minha palidez é algo trincado; através do molde, há a fumaça e um espectro consumido em cera quente; quando o dia amanheceu chuvoso, ouvi um grito em pele esticada: "sorrir pelo cinza!" - e não houveram dúvidas de que o sol havia recheado a estridente face da melancolia. Iluminação. Se Rimbaud trocasse duas palavras comigo, sem dúvidas daria um breve sorriso e me chamaria de "Diabo" - pelo que me tornei.
Plaqueta ácida e saliva envolta em fogo pra que se engula o mantimento sagrado do tempo - o perverso é estar em um campo de visão existente; o silêncio digere. Sempre serei esquecida.

 
Lainni de Paula
Enviado por Lainni de Paula em 30/10/2015
Reeditado em 30/10/2015
Código do texto: T5431820
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