Trans.2

"... Entro na sala de aula. Há uma separação natural entre meninos e meninas. Normal, é essa a fase onde nos detestamos. Meninas eram frescas demais para eles, meninos eram bobos demais para nós, e se alguém ousasse falar que um dia seria diferente, que cairíamos de amores uns pelos outros, sentiríamos imensa raiva de uma afirmação tão idiota. Não odiava os meninos e ainda não os amava. Era cedo. Amava as meninas. De um outro jeito. Transcendia o gostar infantil, o interesse inocente . Queria ser como elas, queria ser uma delas. As invejava em seu melhor e montava em minha mente a criação perfeita, resultado da mistura de características marcantes de cada uma. Mantinha sempre os meus olhos, o que sempre gostei mais em mim. Preciso me acomodar numa das pequenas mesinhas verdes, com cadeiras ainda menores, quase todas ocupadas. Menos uma. Três garotas estão sentadas, conversam, riem, se conhecem, afinal, é o primeiro dia de aula, certas afinidades se desenham e algumas são mantidas para o resto da vida. As escolho e nesse momento, escolho também uma eternidade justificando essa escolha, tão instintiva, mas contraditória para alguns. Fui recebida com carinho no mundo cor de rosa, as mulheres são educadas para serem dóceis, gentis. Acredito na sintonia de almas, com toda a pureza de criança, me viram sem máscara, sem a fantasia de garoto, a brincadeira de mau gosto do destino, sinto ter encontrado o meu lugar, a minha turma e esse é o começo de todo o meu sofrimento. Certas verdades doem mais quando reveladas..."