Dedo Podre

Que atire a primeira pedra quem nunca atirou a primeira pedra, supondo estar certo ou sofrendo de uma proposital amnésia, a que nos atinge nos momentos em que fingir superioridade é a única maneira de torná-la real. Dentro de casa, portas trancadas, silêncio, pouca luz, aliás, nenhuma luz é necessária para enxergar-se, boa vontade, sim e zero vaidade. Percebo que já apontei o dedo, julguei e condenei. Hoje penso que talvez agisse igual, poderia ser a mulher adúltera, a mãe omissa, o pai insensível, o irmão irresponsável, a falsa cristã e tantos outros errantes estereotipados pelos que certamente vivem em constante crise moral. É o incrivelmente perigoso dedo indicador fazendo suas vítimas, na infância, o máximo de estrago que acreditava poder causar está explicado em seu apelido, fura bolo, na adolescência, fase da autodescoberta, conheci utilidades bem mais prazerosas, nada tão voraz quanto a habilidade ao enxergar falhas em terceiros sem nenhum senso crítico. Futucar feridas alheias ainda é mais cômodo que curar suas próprias e a grama do vizinho é mais verde apenas quando conveniente, se não, as terras são infrutíferas e nada do que se planta nasce, até nasceria, se estivessem sob o nosso cuidado - é o que a falta de humildade nos induziria a dizer, mesmo em igual ou pior situação e morrendo de fome.