Sistemas

Cheio está o mundo virtual de “segredos” para a conquista, o sucesso na paquera, ou, ensinos sobre erros que cometemos, táticas falhas que usamos, enfim, por quê, fracassamos. Aí surgem páginas com os sete segredos disso, os dez mandamentos daquilo, e erros mais comuns que cometemos ao abordar mulheres, etc.

Desculpem aí, caros “especialistas”, mas, eu passo. Vamos supor que eu adotasse tais dicas e de repente a coisa funcionasse, me vertesse num “Dom Juan” na arte da conquista. No fundo eu saberia que não seria eu, mas, um sistema engarrafado, friamente calculado, como os movimentos do “Chapolin”, que teria trazido determinados resultados apesar de mim.

Noutras palavras, seria mero títere de um manipulador de sentimentos, e “minhas” conquistas, por expressivas que fossem, teriam tanta vida quanto flores de plástico.

Primeiro, não vejo a vida como se fosse resumida à “caça” de prazeres, invés da busca de um sentimento veraz, que faz a qualidade suprimir a quantidade por volumosa que seja. Depois, uma gotícula de amor próprio, que acredito possuir, me impediria de fazer cortesia com chapéu alheio.

Desse modo, prefiro ser autor de meus próprios erros, autografar minhas mancadas; tais, dado que autênticas, são muito mais certas, aos meus olhos, que todo o refinamento sutil e talentoso desses robôs plastificadores de almas...

Ademais, a alma humana é de peculiaridades sutis, de modo que, a mesma coisa que soa atraente, refinada para um, pode ser diversa para outro. Quem pretende que as sensações humanas possam ser arquivadas num fichário em ordem alfabética conhece sistemas, não vidas.

A vera afeição pode arder à partir de uma faísca fortuita, inexplicável. Aliás, acho que a “explicação” grega via o mito da flecha de Cupido torna o amor alheio à lógica; a afeição, o desejo, desconexos dos liames da razão.

Em suma, não quero “segredos” infalíveis, prefiro patentear minhas imperfeições, para que, apesar delas, se alguém ainda assim me quiser, quererá o que sou, não o que um manipulador de fantoches me fez parecer.