Filhos?... Não, Obrigada!

Agora é oficial: Não possuo instinto materno. Demorei a perceber, na verdade admitir, a total falta de identificação com a "função: mãe", que me perdoem as mulheres que sonham com a gestação e esperam viver para educar um ser, acho nobre, acho digno, acho louvável tal disposição, mas não a tenho. Em "Comer, Rezar, Amar", o filme, uma cena em especial me fez entender que simplesmente não vim ao mundo para procriar, Delia, personagem da estupenda, Viola Davis, diz a uma confusa Elizabeth, defendida pela não menos espetacular, Julia Roberts, o quanto ser mãe muda à vida de uma mulher, acho a metáfora utilizada para isso uma das coisas mais fortes que já ouvi sobre o assunto: _ “Ter um filho é como fazer uma tatuagem no rosto, você tem que querer se comprometer...". Eureka! É isso! Não pretendo me comprometer de forma tão definitiva e olha que me considero extremamente responsável, característica que boas mães geralmente têm, esse mesmo senso de responsabilidade me faz recuar, mamãe me cobra um neto, as amigas dizem que minha opinião mudará assim que ouvir o choro e olhar pra carinha de joelho do meu bebê, mas não chegaria ao ponto de gerar uma criança como meio de me testar, não seria justo que alguém inocentemente fizesse parte de um projeto de observação comportamental, elas precisam aceitar, não serei mãe, ao menos não da forma que alguns imaginam ser a única possibilidade de se tornar uma.

Conheço mães que nunca sentiram enjoos, não engordaram vários quilos, não passaram pelas mudanças hormonais, causadoras da montanha russa de oscilações no humor, não sofreram as dores do parto e mesmo assim, entendem como ninguém o sentido da maternidade, o sentido real, do cuidado, da preocupação quase sempre exagerada, de antever os perigos, do sexto sentido, das respostas para tudo, do abraço quente e do cafuné nos momentos precisos. Biologicamente, nunca foram mães, por opção ou por imposição, da vida talvez, mas certamente, elas fariam uma tatuagem no rosto, porque mesmo não vivendo a experiência transformadora dos nove meses, estão dispostas ao compromisso.

Confesso que não sinto tal disposição - ainda não - e não será problema dividir com todos, uma súbita, ou pensada, mudança de opinião, sou mesmo metamórfica, só que não costumo me enganar quanto às impressões e uma forte impressão de que um mundo tão vasto, tão cheio de possibilidades, não deve me rotular como mãe em potencial, pelo simples fato de ser mulher, fala mais alto. Posso amar, posso cuidar, posso me dedicar parcialmente ou integralmente a outra pessoa, posso me tornar mãe, sem nunca ter parido. Não é egoísmo, é consciência, a racionalidade nem sempre adotada por quem costuma agir tendo o coração como conselheiro, não entendo muito de ser mãe, mas sei bem o que é ter uma. Bom ter descoberto isso a tempo, menos um adolescente revoltado pela falta de atenção, fruto da minha total inabilidade para as atividades maternais. A sociedade agradece.