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“Por que tão sozinho, Victor?”

Perguntou um amigo meu, quando me viu passando meu segundo natal seguido em casa, sozinho.

“Eu não me importo em ficar sozinho.” eu respondi, com um amarguinho no peito.

No decorrer da vida, eu sempre ouvia dizer que a gente só consegue manter um relacionamento quando aprende a viver sozinho, mas e quando nós de fato passamos praticamente a vida inteira sozinhos? Quando ser sozinho é algo que a vida lhe impôs, e não uma escolha inteiramente sua?

Eu sei viver sozinho, sei muito bem. Sentimentalmente e fisicamente também. Sei cozinhar (muito bem!), sei cuidar de casa, sei lavar roupas, sei reformar e arrumar seja o que for caso precise, sei ocupar meu tempo, sei literalmente de tudo um pouco, e o que eu não sei eu busco estar sempre aprendendo. Sozinho é o que eu sei ser desde que me entendo por gente.

Mas quando você está sozinho pela grande maioria da sua vida, você passa a se perguntar “De que adianta saber viver sozinho se sinto falta da companhia de alguém?”, e isso não é carência não, acredite.

Durante toda a minha vida eu busquei ser alguém melhor, não só pra mim mas também para as pessoas ao meu redor e que conviviam comigo. E ao término de relacionamentos em que eu já me envolvi, eu quase sempre ouvi o grande “você é bom demais pra mim”. Por quê? Eu me sinto bem com o que eu sou, com quem eu sou. Eu sempre busco ser e dar o melhor de mim em tudo o que eu faço, então por que eu sou “bom demais”? Por ser quem eu sou? Por buscar ser alguém melhor?

Eu nunca quis me tornar alguém sozinho, mas a vida me induziu a isso e eu aprendi muito bem a me virar assim. Mas ser sozinho é cansativo.

De que adianta suas conquistas e suas glórias se não há com quem compartilhar? De que me adianta ser alguém completo de mim se não há quem possa estar comigo e compartilhar os momentos bons que a vida nos dá quando possível? De que me adianta buscar sempre ser quem eu sou de melhor se não há alguém pra me apoiar quando eu cair ou que eu possa igualmente auxiliar com tudo o que aprendi durante esse tortuoso caminho que é a vida? Cair e ter alguém pra te ajudar é tão mais fácil, mesmo que na maioria das vezes eu tenha sido obrigado a me levantar sozinho. Eu me tornei forte, eu me tornei completo, mas eu nunca pedi por isso.

Eu nunca tive pressa, na verdade sou uma das pessoas mais pacientes que você vai conhecer na vida, e sempre dei meu coração por tudo o que eu fiz e acreditei. Não vou deixar de colocar e investir meu amor nas coisas que me fazem bem e no que eu vejo que eu posso auxiliar. É pra isso que eu aprendi tudo o que eu sei, afinal. Não? Poder ser uma pessoa melhor, e auxiliar todos aqueles que estão ao meu redor.

Então eu não entendo o que me faz melhor por ser sozinho. Eu não entendo porque sou “bom demais” para as pessoas que eu já amei (e consequentemente me deixaram só, auxiliando a minha condição).

Eu não estou reclamando, se eu tiver de ir sozinho eu vou sim! Afinal é o que eu melhor sei fazer, ser quem eu sou e compartilhar meu amor nas coisas e para as pessoas que são importantes pra mim. Eu já viajei muito sozinho e posso continuar viajando, mas não é essa a opção que eu escolheria.

Você pode perguntar “mas e os amigos? Eles estão aí pra que você não se sinta sozinho!” Sim, de fato eu tenho amigos excelentes. Não são muitos, mas são especiais um por um. E eu agradeço do fundo do meu coração por ter cada um deles na minha vida. Mas amigos são amigos. Por mais irmãos e próximos que eles sejam, há uma série de coisas em que eles não poderão te suprir ou que você não poderá fazer por eles. Um relacionamento mais próximo sem amizade de fato não é um relacionamento, mas nem toda amizade é um relacionamento. Sempre há o apelo emocional, a falta de algo mais íntimo, de alguém de fato mais próximo. Estou mentindo? O amor é universal, mas nem todo amor é igual.

Eu não quero um amor qualquer, eu quero mergulhar em alguém. Conhecer suas virtudes e defeitos, assim como ela saiba os meus. Não quero um amor pela metade, um amor meia-boca. Um amor pelo qual você esteja com a pessoa e não tenha certeza se ela está bem estando com você ou não. Bonito é um relacionamento no qual os dois possam crescer juntos e individualmente, aprender juntos, compartilhar dos raros e bons momentos que conquistarem.

Amar tanto alguém que seja ridículo e vergonhoso, mas de um jeito bom, gostoso. Podermos ser quem somos, sem vergonha ou dúvida. Nos transbordarmos sem subtrair, mas somando sempre o que há de bom e que valha a pena somar.

Nenhum ser humano é uma ilha, ninguém nasceu pra ser sozinho. Por melhor que você saiba viver sozinho.

E eu vou esperar sim, porque não tenho pressa em encontrar quem eu possa compartilhar o que há de bom (e de ruim também) na minha vida. Quem reconheça que eu não sou bom demais, mas sou o que sou e posso talvez ser alguém totalmente diferente daqui 10 anos, mas continuaremos juntos e compartilhando nossas vidas, se trabalharmos e quisermos isso.

“Eu não me importo em ficar sozinho”, mas que bom seria compartilhar o que há da vida com alguém, não?