Lições do tempo
Sempre sentia falta do corpo que lhe aquecia a alma, dos braços que a envolviam sem pressa, do sorriso que se traduzia em perspectiva. Sentia a ausência da voz sincera que lhe falava de amor e dos espaços preenchidos que autorizariam saudades eternas. À noite, quando entregava seu corpo ao tálamo, apertava as cobertas e permitia que as lembranças viessem sem nenhuma restrição. Era o tempo de sonho e, por muitos dias, esperava a chegada do crepúsculo para entregar-se à fantasia de pertencer a alguém. Inspirada pelas lembranças, tão expressivamente demarcadas na alma, contava às cicatrizes que o tempo se encarregou de fechar. Muito de si já não existia, fora necessário o abandono para que a vida prosseguisse da forma que deveria ser. Dos poucos sonhos que ainda permaneciam, manteria a serenidade e a convivência leal com os anseios de paz interior. Ao olhar, confiaria a verdade... Distante e melancólico, seria disfarçado em delicado sorriso, transporia a alegria sofreada que aos poucos reconstruiria mais algumas ilusões.