NO CANTO DA SALA
Parece que tudo escureceu
Os quintais ficam planos
Os abajus desligados
E no canto da sala o olhar.
O olhar preso em idéias.
Pedaços desfeitos...
Cantos abertos...
Não vivemos sós.
Primeiro somos nuvens,
Pedaços sem sonhos.
Depois somos vida,
Recanto de cada ser...
Subtraio as essências de tudo
E sinto as células se retraindo
Se machucando
Uma a uma...
Primeiro raiz, depois caule, galhos, folhas, frutos.
Imagino o olhar.
Não tem mágoa nele.
Apenas a constatação da luz
Do abajur apagado
Me recinto e vejo: tudo escureceu...
Tudo pintou-se de negro.
O azul perdeu o lugar.
O branco se assustou.
Nada orgânico.
O inorgânico se evidencia.
O vazio se preenche do nada...
Os sinos tocam.
Um.
Dois.
Três...
Três badalas.
O tic-tac do relógio me incomoda.
Passam-se os minutos,
Segundos, milésimos...
E no canto da sala só o OLHAR.