Balé
A minhoca que engorda, o sapo que incha.
A veia que salta, a artéria que esguicha.
O urso observador, o apaixonado sonhador.
O brilho forte das estrelas, a formiga de capacete.
A falta do que fazer, o mundo por fazer.
O coração para consertar, o nariz a escorrer.
O vinho esquecido envelhecendo no abandono.
O mendigo abandonado envelhecendo na esquina.
A poesia boêmia, a antiga grafia.
O balanço da cortina, a música latina.
O balé incessante dos astros, o cansaço do trabalho.
O fantasma do desemprego, as cartas do baralho.
De onde vem tudo isso? Da vida, do ralo,
Do esgoto, do armário, da mente, do rato?
Para onde vai tudo isso? Pro mundo, para o nada, para tudo?
Para ontem, para hoje, pro passado, pro futuro?