O homem na madrugada
Era uma vez um homem, apenas um homem que andava pelas ruas na madrugada. Não tinha nada; apenas a própria existência. Para o mundo, ele não existia, apenas figurava nas lacunas dos esquecidos. E certa vez, ao refletir, fez a seguinte pergunta: "Senhor, por que sou vítima desse mundo injusto?". E assim palpitou em seu íntimo, exprimindo a amargura de sua pobre condição. Porém, ao ouvir um barulho, olhou para trás e viu um pequeno brilho de alguma coisa que caía pela névoa. Tentou, então, saber o que havia caído. Quando chegou no local, não conseguia achar nada. E nesse momento, ouviu novamente o mesmo barulho. Dessa vez, o som vinha de alguma coisa que estava um pouco distante da sua lateral direita. Daí, viu novamente um brilho que descia pela névoa. E correu logo para ver o que, afinal, era aquilo. Quando chegou no local, não encontrou nada. E, dessa maneira, aumentou a sua amargura e dúvidas a respeito de sua pobre condição no mundo. E novamente, ouviu o mesmo barulho e outros brilhos que caíam pela névoa. E ao seu lado, surgiu repentinamente um ser metade homem e metade pássaro, que dizia: "Tu és amargo enquanto fores verde. Já viu um fruto verde ser doce como o mel? Existem alguns frutos que demoram. E antes, precisam nascer após o crescimento da árvore." E o homem assustado com o que viu, tentou ficar quieto para ouvir e entender o que aquele ser estava a falar. E, por fim, o estranho ser profere com firmeza:
"Ai daqueles que desejam pedras como frutos, por que serão como um brilho que cai pela névoa sem deixar rastro e como o barulho de pedras que ecoa ao cair no chão como a sua única indignação. Não jogueis pedra na própria Terra, se já há muitas nela."