O Mundo Me Engole

...E me cospe porque sabe que eu não devo fazer bem.

Conhece essa música?

Que me resta nessa porra, senão encher o pote de cerveja? Quer coisa mais clássica e derrotista e redentora e reconfortante para quem foi à lona? Fui me olhar no espelho, conferir o cabelo, a barba, essas bolinhas vermelhas que têm aparecido nos meus ombros, então vi lá seu beijo em batom, todos os sulcos dessa doce boca que veio para adoçar essa existência pífia por segundos e amargá-la por uns bons maus dias. O que me impressiona mais é a surpresa de tudo degringolando repentinamente, tanto entre nós como aqui dentro. Jurava já ser portador de um coração paleolítico, de uma alma empedernida, de uma empatia mumificada. Aí você vem. Amolece. Bate. Fura. Ressuscita. Suscita. Água doce. Doce vilã. E some, feito recuo manso de onda brava. Demônia. Filha da puta. Tudo meio quebradiço, agora. Reflito, juntando os cacos. É um mantra contínuo que repito. É uma rotina sem fim, apesar dos hiatos. Juntar cacos. Se reconstruir bruto. Meter o leite de colônia na sua letra declarando esse amor anglo-passageiro por mim, arder as ripas, o MDF, borrar de rosa o algodão e atear fogo nele depois. Haja latão para diluir essa modorra. Como afugentar tantos rostos queridos, todos amalgamados num rosto só? Rosto multifacetado. Cada ângulo um bálsamo, um elixir, um suspiro, uma poesia, um arrepio, um querer maior que o querer anterior e menor que o querer subseqüente, indefinidamente. E odiá-lo, depois, a pedidos? Cada ângulo um tiro, um veneno, uma facada, um murro bem dado, um estrangulamento de faixa-preta de jiu-jitsu. Fugir... Provasse que tens amor por mim do jeito mais convencional: estando, ficando, confiando. Fugiu. E eu aceno. Dou tchau. E isto aqui não é nada demais.

16/09/2015

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 17/09/2015
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