Alma gêmea.
Sei que muitas coisas parecem difíceis de quantificar.
Quanto vale um amor, quanto é uma dosagem de felicidade?
É válido se amarrar nas mesmas coisas, em busca dos mesmos resultados para chegar em respostas desgastadas, que já usamos, que deveríamos tê-las extirpado por período de validade, dado que nada que é único pode classificar um coletivo?
Já me peguei preso na ideia de que talvez tudo seja um grande vício onde quanto mais me apego em você para fugir dele, mais me engasgo e afogo-me com ele. Seria um suicídio assistido onde você seria o vício, o remédio e o gatilho.
Mas a resposta para o seu enigma é bem mais simples.
Ora, veja, eu não dependo disso para viver. Eu ainda respiro, eu como, durmo, tenho momentos de entretenimento e de exaustão. A diferença é que você surge no horizonte como uma certeza, e não como um oportunismo. Você não foi uma obra do acaso, você foi uma construção do universo.
Não foi preciso análise, tampouco preocupação. É como frio no inverno ou calor no verão. Era uma certeza. Eu não era movido por um impulso, eu era movido por um pulso. Coordenado, cadenciado, liberando a exata dose no exato momento e sentando, relaxado, para ver o resultado que ele já sabia que aconteceria.
Todos os dias, todas as manhãs, o resultado chegava.
A decisão binária, o jogo rápido, o sim ou não havia tido sucesso por mais um dia.
Meu sistema se adaptou a você. Eu não abraçava-a por ser diferente, eu abraçava-a pois você era um fragmento de mim que nunca foi preso a mim. Um caco da minha alma que se desfragmentou, tomou forma e vida e seguiu sua vida até cruzar com a minha novamente.
Eu não abraçava uma recém-conhecida, um presente, uma surpresa. Eu abraçava uma memória, um pedaço de mim que havia desaparecido há tanto tempo que eu já não lembrava mais onde deveria procurar. O vazio que antes escavava moradia no meu coração deu lugar ao dono do espaço por direito: você.
É estranho também porque no fim do dia você é minha decisão binária novamente. Todas as noites eu tenho a decisão de me despedir de você. Pela chance de te perder novamente e quem sabe dessa vez nunca mais achar.
A questão é que, incisivamente falando, sempre escolherei lhe desejar uma boa noite. Agora eu sei que você encontrou morada em mim, e que eu encontrei a mim em você.