Alma chuvosa
Eu chovo em silêncio. Eu grito com o olhar. Há tempestades dentro de mim e sufoco-me só de pensar. Tento mostrar-me feliz externamente, quase sempre consigo. Mas estou cansada de esconder o cansaço. Nem tenho mais forças, nem vontade, nem desespero para gritar.
Já não tenho mais impulso para explanar minhas ideias, meus sentimentos. Refugio-me dentro de mim mesma. Ninguém consegue me encontrar, ninguém consegue me resgatar. Eu me afogo e não quero ser salva. Porque não ligo, ligo para nada. É como se eu quisesse ficar na pausa eterna do meu Eu interior. Não vale a pena viver nesse mundo com essas pessoas sem humanidade. Cansei de ser boa, agora eu sou.. O que?
Misantropia. Ah, como eu queria não precisar viver em sociedade. Queria ser eu e o mundo, apenas. O mundo só para mim e à minha maneira, porque cansei de servir e não receber gratidão. Cansei de querer agradar a todos e desapontar a mim mesma.
O egoísmo se faz necessário em mim. Suplica. É latente.
Nem todo mundo é ruim, eu sei. Mas o ruim se apega à mim com tanta facilidade que não desgruda até eu me encolher de desprazer social.
Não peço muito. Não exijo muito. Quero ter paz, respirar paz, sentir paz. Adão e Eva eram felizes e não sabiam, porque cederam a mais? O mais, às vezes, é nossa prisão. Eu só queria fazer o que quero, e não quero muito, só o suficiente para paladear a paz.
Viver socialmente faz bem ao ser humano, mas diante da atualidade eu só queria voar sozinha. Melhor... com alguém. Alguém como eu, que saiba sentir o mundo como eu, e que não necessite dessa realidade que vivemos.
Como eu queria viver o irreal, o fantasioso, o poético, o que a arte nos transcende o olhar. Posso eu me atrever a querer isto? Que mal faz? Min'alma pede socorro. Corre risco de extinguir-se. Quem conseguirá me salvar? Resta-me escrever, porque este é meu consolo para esses dias ainda suportáveis.