Sobre alguns resíduos
Considerando que:
1. opinião é que nem ânus - cada um tem o seu (sua, no caso);
2. de todo ânus sai fezes (resguardados os casos de colostomia); isto é, todos os animais as produzem e é imperativo que sejam expelidas, sob pena de doença e morte;
3. fezes ('resíduos', do latim faeces) é o material restante após a digestão e absorção dos alimentos pelo tubo digestivo dos animais (no caso, o animal opinativo é o humano, lógico);
4. fezes fedem – contra fatos não há argumentos; o odor se deve a ação bacteriana, que produz compostos com enxofre (o mesmo elemento químico atribuído ao inferno e aos capetas);
5. o tipo de alimentação, entre outros hábitos, orienta os processos digestivos e a flora bacteriana e, consequentemente, a intensidade e qualidade do odor das fezes;
6. custa um bom bocado, mas existem produtos especiais para reduzir o odor desagradável das fezes;
7. nem tudo que é engolido é totalmente aproveitado, restando nutrientes e energia nos resíduos; então, fezes humanas podem ser usadas como fertilizantes ou fonte de combustível; e
8. através de análise eficiente, as fezes podem fornecer informações importantes sobre a dieta e vida da pessoa.
Percebo que
* a opinião – esse fato idem imperativo e humano – é mais abundante que todas as bundas do mundo e está completamente relacionada com o que a pessoa 'consome', entre outros hábitos (incluindo prática consciente de cidadania);
* da mesma forma como o uso dos banheiros públicos, é relativamente cômodo opinar quando não se tem obrigação de limpar e desodorizar o ambiente após o ato;
* apesar de existirem circunstâncias especiais, válidas para redução do 'odor' de certas opiniões, torna-se inexequível ao coletivo seu uso constante, inclusive porque fisiologismos filosóficos e políticos não se justificam e porque atos fúteis ou maldosos oneram o tempo e a sociedade (e eis duas grandezas sem preço!);
* ler um bom livro enquanto se livra do cocô é atividade das mais prazerosas e equilibradas ao ser humano: aprendizado (desde que se escolha bem) e saúde (por pura necessidade) – valendo a lembrança 'no meu trono eu sou rei', o que dá até um senso magnânimo à coisa toda;
* tem gente que lê cocô e se livra do livro;
* se há uma espécie de pré-sal de cocô humano a ser explorado, acontece o inverso com as 'opiniões' – basta ver quanta merda é repetida como se fossem apoteóticas invenções da roda;
* adeptos da inteligência e racionalidade sustentáveis devem constantemente reciclar suas opiniões, escolhendo melhor destino para conteúdos e entusiasmos;
* 'O inferno são os outros', como já disse Sartre; resta 'treinar o nariz' a sentir consistência e valor agregado de cada opinião, já que quase sempre há algo de podre em qualquer reino – inclusive no temporário território do banheiro.
Enfim: quando a opinião do outro não me cheira bem, investigo-o - e a mim, também.