Ela

Quem irá perguntar a ela porque veio?

Quem poderá dizer: Vá embora?

Ela vem e não pede permissão a ninguém.

Chega quando ninguém espera, e vai embora sem dizer nada.

Deixa marcas profundas, feridas abertas.

Não é capaz nem de oferecer remédio para a dor.

A nós só resta chorar, sofrer calado.

É inevitável sua presença.

Se pudesse, diria: Não venha, não quero você.

Mas, de nada irá adiantar.

Ela vem. Um dia ela vem.

Ela vem com sua estupidez, seu escárnio.

Ela vem com a sua bagagem, mas não para ficar.

Ela vem para ir embora depois.

Ela não fica.

Mas, coloca em sua mala nosso tesouro, nosso bem mais precioso.

Vai embora sorrindo, deixando sua dor.

Deixa seu medo, sua incredulidade, seu desespero.

Ela consegue, com um só golpe, rasgar a nossa alma

E tirar um pedaço vital.

E mesmo assim continuamos vivos.

E a que preço!

A dor que ela deixa é mais forte que tudo.

É mais forte que a própria vida.

É a dor do nunca mais.

Ela deixa o vazio, o frio do adeus.

E quem poderá questionar?

Quem poderá dizer não?