O Último.

Sou de datas.

Aliás, quem não é?

Datas são

Marcas intrusas,

nomeação de dias completos e normais,

datamos por necessidade de organização, mas,

datas não existem,

e réveillon é ilusão.

Amamos datas,

e as pessoas que somos,

enfeitam-nas de comemoração,

porque elas, ou nós,

não passamos de datas também.

Do existir ao deixar de estar,

somos datas simplórias

e cheias de maldades.

Avessas..

Que a dor do espelho não

nos venha nesta hora.

Que tenhamos fósforos

nos bolsos e árvores dispostas a iluminarem dias escuros.

Se tivéssemos a certeza

de que hoje é nosso

último dia?

Será que então, trataríamos

de sermos melhores

com quem nunca fomos,

por termos de fato achado que,

tais seres não mereciam nossas melhores faces?

Talvez neste dia descobriríamos que o que achamos não passa de pura especulação, em muitos casos, pura pobreza do ser.

E sim perceber que os tantos acessórios, cargas, roupas, os trabalhos, que nos fazem mais bonitos não passam de coisas bonitas, que de tão bonitas ficam.

Encantados como índios, por espelhos tão profundos, nos veríamos como seres tão estranhos quanto o mundo, por interrogar a vida, e clamar por tua existência, tudo no último dia, pardos tristes por falência.

que todos os outros dias posteriores, não sejam tão bons quanto nosso último dia.

Mirela Lourdes
Enviado por Mirela Lourdes em 09/09/2015
Reeditado em 13/11/2015
Código do texto: T5375675
Classificação de conteúdo: seguro