Nasci Assim

Meu nascimento ocorreu normalmente como de qualquer outro, mas enquanto minha mãe me dava a luz eu era agraciado com o dom de amar a todos.

Nunca tive consciência disso, até esse momento.

Mas em um mundo onde o ódio predomina como posso pisar tranquilamente neste chão?

Diante das atividades mais normais grande parte das vezes fui excluído.

Nunca me dei bem ao jogar bola ou brincar com carinhos; sempre preferi estar as meninas brincando de casinha.

No meu nascimento, fui agraciado com o instinto materno, ou algo semelhante.

Por um longo todos os garotos me caçoavam e o mais engraçado é que eram os mesmos que horas depois se relacionariam de alguma forma comigo.

Eu sempre aceitei.

Pensava ter algo errado naquilo e pedia a Deus que me perdoasse por estar pecando, mas hoje pergunto-me: Deus, o que é o pecado? Seria uma invenção dos homens para impor limites? Ou uma lei divina deturpada pelos homens?

Eu me rendi à religião e neguei a mim mesmo para que Jesus, o Jesus cristão, pudesse fazer morada em mim e o Divino Espirito Santo guiasse meus passos. Mas até quando valeria a pena ser algo que não sou e me convencer de que meu fingimento era a verdade absoluta? Não podia fazer isso!

Tantas foram as palavras odiosas que meus ouvidos de criança ouviram, ouvidos que precisavam ouvir amor, mas invés disso ouviu o ódio, o desprezo, a insensatez e a falta de empatia. Meus ouvidos sangraram e juntamente meu coração, por sua vez minhas pernas se abalaram e então eu caí de bruços no chão que estava tão frio a ponto de congelar meu grande coração. E todos viram o que estava acontecendo.

Eu violei meu próprio corpo e meus pulsos carregam a marca de até onde o fingimento me fez ir. Não aceitava de forma alguma quem eu sou. Eu chorei e sangrei, sozinho. Apenas precisava aceitar e tudo ficaria bem, mas resistia a isso. E morri por dentro.

Cada parte do meu corpo doía como se eu estivesse sendo marcado a brasa. Eu não enxergava mais, não sentia mais, não comia, não dormia, não vivia; eu estava morto.

Durante muitos anos permaneci morto e dancei sobre minha morte. E fiz os outros acreditarem na minha morte. E apodreci, tudo em mim estava morto.

Mas alguém me estendeu a mão, a mesma que me deu a luz há anos estava alí para tirar-me do abismo lamacento ao qual eu me pus a beira e atiraram-me dentro. Eu resisti e a agredi, mas ainda assim ela estava ali para mim. Então segurei sua mão e senti aos poucos a vida voltando para mim. Mas não era mesma vida de antes, era nova. Uma nova vida foi dada a mim pelos céus através daquela que me deu a luz.

Quem outrora disse-me palavras odiosas, suponho, que ainda odeie o ser que eu sou; e não só esses, mas muitos outros compartilham desse mesmo sentimento. E o ódio deles ainda atinge quem sou.

Mas o Senhor de todas as coisas está me presenteando com uma armadura, com sabedoria e com pessoas maravilhosas. Eu posso sentir isso nas minhas veias.

Não sou uma pessoa religiosa e nessa vida que me foi dada não pretendo ser. Mas a supremacia do universo e do arquiteto por trás de tamanha beleza está na minha alma e em meus dons. Eu posso não saber muito sobre ele e todos os mistérios que o cercam, mas sei com toda certeza que um dia ei de saber.

Eu sinto a terra, a água, o fogo e o ar; e todo o tempo os pássaros cantam em meus ouvidos. E sou feliz por isso. Em meio a toda a tristeza e não compressão que vem me cercando eu sou feliz por sentir e ouvir o que a natureza tem a me dizer. Meus ouvidos estão sendo abertos e meu ser preenchido de ainda mais amor. Não há espaço para o ódio. Eu te amo e estou no processo de amar a mim mesmo, só assim serei pleno neste dom.

Eu fui agraciado com o dom do amor, todos nós fomos, mas em um mundo onde o ódio predomina como posso pisar tranquilamente neste chão? Amando! Amando uns aos outros independente de credo, condição sexual e afetiva, conceitos e religiosidade.

Eu sinto o amor borbulhar dentro de mim e fazer virar ações o que está apenas em pensamento. Eu sinto e não dói sentir dessa vez, nessa vida nova, nesse mesmo corpo que um dia sentiu muita dor. Ainda sinto a dor, as vezes, mas o amor é a força mais poderosa do universo.

Se um dia te chamarem de ridículo por ser quem você é, não dê ouvidos, apenas ame. Apenas transforme o ódio quem vem até você em amor. E devolva para quem te mandou, não o ódio, mas o amor.

Ame, simplesmente ame. Ame enquanto pode, ame enquanto deve, ame todo o tempo. E nunca pare de sentir o amor, mesmo quando tudo parecer difícil, mesmo quando todas as janelas estiverem fechadas, mesmos quando as portas estiverem trancada, mesmo quando você estiver preso, mesmo quando tudo a sua volta cair, mesmo quando a você perder a pessoas mais querida da sua vida, ame. Simplesmente ame. O amor é a fé que as montanhas, o amor é a força do fraco e a solução do oprimido. Ame. Por favor, amor. Não faça nada além de amar e amar com todo o seu ser. Apenas ame.

Eu nasci assim, fui agraciado com o amor e o mesmo sempre habitará em mim. Nada poderá tirar algo que está unido a minha alma.