Desabafo
Alguns dias atrás, venho conversando com meu eu interior sobre cobranças. Sendo uma representante do final do século XX, esperei tradicionalidade na minha criação, e assim foi. O problema é quando se chega na idade das decisões. Estudar em um colégio particular é uma pressão, passar no vestibular é outra, escolher o curso é mais uma, arrumar um empreguinho também, e blá, blá, blá.
E quando cometo erros? Lá vem paus e pedras. Como foi capaz de algo assim? Como explicar que não me encontrei?
Tento de maneiras diferentes, agressivas ou suaves, com argumentos ou com emoção, nada. Aconteceu, simples assim. Arrumo um emprego, um bico, um gig, como diria Kim Kardashian, me apaixono e pronto, the bomb has been planted. O mundo que conhecia se desfez como sal de frutas em água. O que me resta? Reprimenda.
Por algum tempo fiquei mal, me perguntei se o que quero é de fato algo absurdo, e cheguei na conclusão de que não é. Me foi dito que "viver de aventuras" é perigoso, e agir sob influência de sonhos me fará cair.
Pois bem, se cair, levantarei. Sei que não errei. Sei que estou escolhendo um caminho para o qual, sem falsa modéstia, tenho vocação. Vocação e amor, muito amor!
Peço desculpas pela melancolia, mas exponho aqui, em primeira mão, a minha decisão: serei escritora, professora de línguas, tradutora e intérprete. Jornalista nas horas vagas, para textos não muito incrementados.
E que se danem aqueles que não me apoiarem ou que acharem ruim. Terei profissões lindas, que ajudam pessoas e as estimulam. Se o medo é de que eu sofra, estou disposta. É uma possibilidade. Mas é isso, e ponto final.
Química, eu te amo também. Mas de coração, sou Letras, sempre fui e sempre serei.
E aqui volto ao início do texto: está um jovem preparado para tantas cobranças? Pode ele se decidir sem errar? Sim e não e talvez. A vantagem da juventude (sem ofensa aos mais experientes) é poder pegar a borracha da vida, apagar tudo que foi escrito à lápis, e depois reescrever. Pode ser até com caneta, desde que haja branquinho, do líquido, por favor. Escolhi, desta vez, caneta tinteiro com letra em itálico pois acho que esta é uma ocasião digna. Aos companheiros indecisos, digo: não tenham pressa. A luz, em breve, se acenderá em suas cabeças. Enquanto isso, aproveito e troco a minha lâmpada.
Por uma Ruiva Barata