Borrão

Não suporto essa latência

dormência das palavras.

Rejeito esse rosto,

sem sombra, sem alma.

Vieram os grandes

negaram nossas faces

depois maquiaram

depois mutilaram.

Andamos inalando éter

nesses campos de concentração.

A fome desconexa da raça ariana

substituída pela adoração à robótica

o rosto de lata,

não expressa

o peito de zinco,

não sente

o cérebro,

fundido a ferro,

não pensa.

Corredores de Auschwitz

a garganta do demônio

a engolir pessoas

e regurgitar máquinas.

Quase um nada!

Somos, constantemente,

um borrão da nossa própria essência

desfigurada entre sombras e silêncios.