Deus Para Freud e Para Jung.
"Quando se entra nos estudos do suíço Carl Gustav Jung, a história já é bem diferente da que Freud defendia: que religião serve apenas para reconfortar o lado afetivo paterno que o sujeito perde na infância e passa a depositar em uma Divindade. Aumentando, assim, a repressão sexual. Para Jung, os fenômenos míticos e parapsicológicos representam um aspecto importante da personalidade humana e não devem ser derrubados. Jung vai além ao afirmar que é a ausência da religião, e não a sua presença, o que pode gerar não apenas “patologias psíquicas”, mas também “convulsões sociais” – asserção sustentada por meio de suas controvertidas ideias, como o inconsciente coletivo, os arquétipos e a individuação.
Em uma entrevista concedida à BBC pouco antes de sua morte, em 1961, Jung foi questionado sobre sua crença pessoal em Deus. “Não preciso ‘acreditar’ em Deus; eu sei que ele existe”, foi a resposta. Mais do que isso, conforme narra o inglês Christopher Bryant no livro Jung e o cristianismo (Editora Loyola), o suíço acreditava que muitos dos males do mundo moderno deviam-se ao fato de este ter se distanciado de suas raízes religiosas.
“Jung sempre afirmou que a psicologia não pode nem provar a existência de Deus nem refutá-la. Nem a experiência de Deus pode provar que Deus existe, embora, claro, proporcionasse provas importantes que o filósofo devia levar em conta. Mas, falando como ser humano e não como psicólogo, admitia que ele próprio acreditava piamente em Deus”, explica Bryant.
Filho de um pastor protestante, Jung teve, diferentemente de Freud, um interesse vivo pela religião ao longo de toda sua vida. Já em idade avançada, escreveu que, aos quinze anos, “ninguém podia me fazer abandonar a convicção de que me havia sido destinado fazer o que Deus queria, e não o que eu queria (…). Com frequência, tinha a sensação de que, em todas as questões decisivas, eu não estava mais entre os homens, mas sozinho com Deus”.
Mesmo assim, o psicanalista por vezes escreve que a chamada “experiência de Deus” não é necessariamente a sensação do Deus vivo em quem cristãos, judeus e muçulmanos acreditam. Tanto que alguns de seus seguidores rejeitaram a existência objetiva do ser divino e entenderam tal experiência como sendo meramente a consciência da profundidade e vastidão da própria psique humana".