________________________________O LAGO
Eu tinha o hábito de ficar longas horas à beira de um lago. Quando viajava, a mais triste das minhas falências era a de não poder absorver, sozinha, a luz e o silêncio manso e misterioso do lago.
O que ele me dizia vinha de suas profundezas, o seu timbre era sereno, insubmisso até mesmo ao manto pesado de água. Era uma voz vencida mas muito sábia.
Depois de algumas horas eu levantava, molhava minhas mãos e passava os meus dedos úmidos em minha nuca. Meu encanto por lagos começou quando eu era ainda muito pequena, quando minha gargalhada virava silêncio diante dele. E mesmo à vontade em suas margens, nunca quis aprender a nadar. Eu amo cachoeiras, admiro a engenhosidade dos rios, me sinto hipnotizada diante de lagos e temo o mar.