O Caminho de Volta.
Engraçado. A gente sempre pensa em progredir e temos a impressão que este verbo nos impulsiona para frente. Pode até parecer redundante quando falo em impulsionar para frente, mas, não é; até porque é possível que eu seja impulsionado para trás. É incrível! Esta ação acontece tanto e não nos damos conta disto. Vivemos pensando em encontros, mas o que vivemos na verdade são reencontros. Queremos muito descobrir coisas quando, na verdade, o que mais fazemos é redescobrir. Olhamos tanto para frente e queremos tanto o futuro que esquecemos que o que devemos fazer é olhar para trás; revisitar os cômodos de nossa casa interna, arrumar algumas coisas, abrir portas que fechamos e enfrentar a poeira de sentimentos que esquecemos que existiam. Nesta visita, encontramos muita coisa que deve ser jogada fora, sentimentos descartáveis que já nem servem mais para nada e que fazemos questão que estejam lá, acumulando-se junto com as outras coisas velhas que pensamos ser úteis. Vamos pensar em nossa casa física: saímos e voltamos para ela: lavamos, tiramos coisas velhas dela, teias de aranhas. Há coisas antigas que não servem para nada e que devem ser jogadas fora porque só fazem atrapalhar e ocupar espaço; impedem movimentos amplos, impedem a liberdade de nosso lar. Mas, o que acontece em nossa casa física também acontece em nossa casa interna: temos uma casa interna, um lar interno de onde saímos e voltamos diariamente. Esta casa também precisa ser lavada, as coisas velhas e antigas de lá também precisam ser resignificadas e algumas precisam ser jogadas fora já por total inutilidade; as teias de aranha em nossos cômodos internos estão lá e precisam ser retiradas. Algumas vezes nosso lar interno precisa de uma reforma ampla; nesta reforma não mais caberá muitas coisas antigas; não haverá mais espaço até mesmo para algumas pessoas que antes considerávamos importantes e insubstituíveis. Já outras pessoas terão seus valores resignificados, serão visitas temporárias, mas, se estiverem atrapalhando os nossos movimentos e a nossa liberdade, ocupando espaço, a doação é o melhor caminho; servirão a outros de forma melhor já que utilidade que existia, hoje, não mais existe; se quiser mantê-las, acostume-se com as dores e com os tombos que vai enfrentar; coisas antigas ocupam espaço e causam dores; às vezes as dores se dão pelo enfrentamento de novos conceitos e pelas suas descobertas. Descobrimo-nos neste processo. Mas, a maioria das dores se dá pelo impedimento da conquista da liberdade que um dia tanto se quis. Contudo, nem tudo está perdido porque a vida nos impulsiona para trás justamente para nos dar a chance do progresso. Parece contraditório, mas é exatamente quando refazemos nossos caminhos e revisitamos nossos valores que nos redescobrimos e lembramos o significado esquecido de nossa liberdade e de nossa felicidade. Sigamos! Intensa saudade: lembrança ampla que nos levará ao topo de um sorriso de redescobertas.