FÊNIX NEGRA
Já estou passando por tantas tempestades que nem me lembro mais da leveza que eu sentia ao ver o sol sorrindo para mim. Ouço a menina que eu fui soltando um grito de horror. Parece um animal ferido sentindo lentamente a lâmina afiada de cada punhal. Ela morre dentro de mim. Olhos se fechando, sorriso se desfazendo, sonhos se apagando. Ela morre dentro de mim. Sua fala mansa, seu entusiasmo infantil, sua fé no amor. Ela se prostra de joelhos, levando cada memória florida, cada melodia poética, cada gesto gravado, cada sensação perfumada. Ela tentará até o fim emergir com um pedido de socorro. Tão teimosa... Sua inocência não permite que enxergue o óbvio. Ela é minha oferta de sacrifício. Ela morrerá. Precisa morrer! Sangrar, agonizar. Uma vida por outra vida. Estou nascendo enquanto ela morre.Me alimentando de sua tristeza. Devorando sua energia. Enterrando as suas fantasias. Estou nascendo enquanto ela morre. Sorriso cínico, olhar obscuro, pensamentos gritantes, coração petrificado. Isso que estou me tornando... Ahh! Isso não tem nome, não estende a mão... Não se emociona mais.