Não sei do que estou falando

E é assim que se sente vivo, afinal? Quando ela sai do closet deslumbrante e te beija. Quando a essência feminina se infiltra em você. E tudo em você é essa felicidade em tê-la. Ou é isso o que te mortifica? Um punhado de adornos e caprichos para agradar o sentimento morno e impaciente que você insiste em fingir que ainda existe dentro de você. Ultimamente eu tenho tido uma expansão gigantesca nos meus horizontes preenchidos por nada. Horizontes inócuos. Vago. Vago nas horas, no espaço. No vácuo. O progresso bate à porta e finjo que não estou. Pus minha existência no modo avião e sigo inalcançável, sigo inexistindo enquanto respiro, sigo tropeçando sem sair do lugar. Estou apaixonado sem estar, amo sem amor, e esse meu sorriso é o maior ardil que tenho para me embolar em problemas: a felicidade que sinto me trai, é uma ratoeira. E ela também não existe. E eu quero problemas. Muitos, uma barafunda deles. Quero me desgraçar em tretas existenciais & amorosas & extraconjugais até não sobrar nada que se aproveite de minha carcaça. Não quero respeitar nada. Seu passado, nossa história, o que viria a ser: foda-se. Foda-se tudo. Não, não é assim. Não sei do que eu estou falando. De novo, eu não sei do que estou falando. Mate-me, por favor. Tenha a fineza de cortar minha garganta enquanto durmo ao seu lado. Ponha Hunter pra tocar. E faça. E de luz acesa. Quero que me observe no afogamento desse meu sangue imundo. Só apague a luz após ver opacidade em meus olhos esgazeados. Porque eu não sei do que estou falando.

16/08/2015 - 23h20m

Dido - Hunter

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 16/08/2015
Reeditado em 16/08/2015
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