Quase amor

É, guria, é agosto e aquele azo de quase-fim-de-trezentos dias segue a fio enquanto a estação não corresponde à regularmente correta. Faz calor e soa desconfortável. Soa desconfortável sentir o sal impuro transpirar da cute enquanto teu melhor jeans mofa no armário quase gélido.

É quase setembro também e beira o gosto dos meus dois-zero tantos anos de vida a se homologar e aquela intrínseca e sebosa sensação de que quase tudo não entendo.

Como aquele quase momento.

Quase momento aquele de ensejo ensaiado que te permitiu tropeçar na minha frente e me fez rir cuidadosamente porque muito mais que sorrir, eu admirava. Não fosse o jeito donoso como tu consegues errar.

Quase beijo foi aquele momento em que eu descubro você me olhando ininterruptamente num holocausto hormonal, permitindo todo teu contingente sistema sentimental me querer bem. Aí você desvia o olhar como quem nada quer num quase disfarce. Me volto e afago a cabeça no meu punho cerrado novamente, jurando tentar não interrompê-la. Só pra que me olhes outras vezes. De novo, e novo.

E então aquele teu reflexo em recostar a palma cru da tua mão no meu braço enquanto eu ironizava a tua agonia, foi quase abraço.

Foi quase um desejo.

Como café com canela polvilhada.

Foi aquele quase gol nos dois segundos martirizantes de final de partida.

Aquela distração efêmera antes do sorvete splash no chão.

Aquele lado gelado do travesseiro na noite insone.

Aquele agudo do Charlie de imprescindível repercussão.

Aí anunciam 21h45 e tesoura o meu barato.

Foi quase amor.

E quase amores são permitidos.

Porque talvez durem tanto quanto os inteiros.