Caminhando para Si

O homem sempre procurou a si mesmo. Desde a antiguidade o homem sempre esteve procurando si mesmo, conhecer a si próprio. A frase, “γνῶθι σεαυτόν.”(conhece-te a ti mesmo) dita por Femonóe (Φημονόη), e imortalizada por Sócrates, trás ao homem a ideia de auto-conhecimento e auto-controle, ou seja, a ideia do ser Próprio. Ideia esta que está presente no texto “Do caminho do Criador” escrito por Nietzsche, onde se encontra vários questionamentos guiando para uma reflexão sobre si mesmo, um auto-conhecimento, um isolar-se do rebanho, para usar as palavras de Nietzsche.

De fato para o auto-conhecimento, você necessariamente deve isolar-se do mundo, dos juízos de terceiros, dos pré-conceitos. Será que somos capazes? Será que é possível? Ou será que nunca tentamos? Será que é realmente difícil? Não devemos nos preocupar com os preceitos e juízos do todo, afinal, conhecer a si, é conhecer e encontrar o individual, o próprio.

Sempre que tentarás conhecer a você, sentirá angústia, como diz Nietzsche, e essa angústia será o caminho para conhecer a si mesmo. A angústia, de fato, é um sentimento de conhecimento, chamaria até de sentimento do pensar, onde você não sabe ao certo o que está sentindo, o que está gerando, mas quando sempre está pensando. Estar angustiado, não é estar triste, desanimado, feliz, animado, enjoado. Estar angustiado é estar a pensar e sentir o próprio pensamento e todos os pré-conceitos que estão dentro de ti. Sejam esses pré-conceitos gerados por ti ou pela massa, sempre que estiver com incômodo, na angústia, de certo é por pré-conceitos próprios, ou por juízos da massa.

Muitos dizem ser livres, dizem ser diferentes, muito se prega para que seja diferente, se esse discurso fosse o próprio discurso do individual, do próprio. A primeira vista parece, visto que a individualidade está justamente na não existência de iguais, porém, um discurso de seja diferente ecoado na multidão, torna-se uma igualdade. Dizem para ser diferente, mas fazem o manual do que é ser diferente. Pluralidade hipócrita. Não se deve ser diferente, deve-se ser próprio!

Para ser próprio, deve-se sair da massa, sentir-se angustiado, pensar sobre os incômodos e ser livre. Não adianta apenas ser livre, não adianta apenas isolar-se. É necessário acima de tudo. Pensar sobre si mesmo. Julgar si mesmo.

Como é difícil ser um juiz de si próprio, ter imparcialidade sobre si mesmo. Não deveria, afinal o quem faz tuas leis e teus conceitos é você. Não é?

Muitos se dizem livres e próprios mas são incapazes de se julgarem e de se pensarem como singular, por fora da sociedade. Isto é terrível, pois não pensar sobre si mesmo, não se julgar, jamais terá conhecimento da própria singularidade, da própria, grandeza.

Poder julgar-se é árduo não pelo fato de ser o criador das próprias leis, e de ter próprios pensamentos, mas sim, pelo fato do que isso acarreta. Os sentimentos, que o julgar-se pelo próprio juízo traz para si. Sentimentos dos quais ninguém gosta de sentir, sentimentos que trazem para si a ideia da solidão. A solidão parece árdua não por ser solidão, mas pelos juízos pré-existentes sobre ela. Os sentimentos que esses juízos trazem para a solidão, são estes os que doem. Porém, esses sentimentos estarão sempre atrelados enquanto não conseguir sair massa. A solidão por si só, é estar-se consigo mesmo. Os sentimentos ao redor são juízos internos provocados pela fome de massa.

Mesmo sendo provocados pela fome de massa, os sentimentos são próprios, e mesmo sendo próprios são provocados pela massa. Portanto não se deve ignorá-los, mas deve-se também afastar os sentimentos que te impedem de conhecer a si mesmo. Difícil mesmo é afastar do seu próprio sentimento, pois nele próprio da massa, aquele que se julga ser o genuíno. Difícil é afastar dele.

Difícil é justamente por sofrer com os sentimentos e os juízos gerados pelo próprio de massa, aquele que a massa não condena, mas também aquele que não sabe e não tem conhecimento da própria grandeza, e tem a falsa sensação de próprio.

Durante o afastamento e o julgamento sobre si mesmo, e formulação dos próprios juízos e dos próprios conceitos muito se passa pela mente a impossibilidade, e a não permissão do próprio pensar e julgar. Muito se pensa “Não posso pensar isso”, “Não devo ser assim”. A questão é: Não deve e não pode ser e pensar tais coisas por quê? Por próprio juízo? Ou por juízo do próprio de massa? Por que o seu juízo afastado da massa não pode existir? Esqueça os juízos da massa. Eles jamais quererão o seu próprio, a não ser que o seu próprio convenha a massa, mais do que a ti mesmo, então não será todo o seu próprio.

Zarathustra diz: “Mais que todos, porém, é odiado que voa.” Certamente, quem pensa próprio, quem se julga e quem busca a si próprio não é bem visto por aqueles da massa, a massa julga. Deve liberta-se desses julgamentos e dos julgadores da massa, deve estar só. A Massa não gosta do só.

À medida que se caminha de encontro a si mesmo, mais se destrói o próprio de massa. Destruindo o que te tem da massa, faz gritar em você a voz do próprio, do genuíno, do seu próprio real. O seu próprio real é o que conflitará com o seu próprio de massa, e te dirá o que é seu. O seu real que te criará os teus próprios juízos, que serão conflitados com seu próprio de massa.

Conhecer a si mesmo é fazer com o que seu real grite por cima do seu próprio de massa, tendo assim sues juízos, suas vontades, sua própria grandeza. Para então saber quem és só e quem és na massa.