PODRE DIAMANTE
Oro aos céus pelo não desencanto...
Deve haver um tesouro no final do arco-íris...
Esperança que não se desfaz.
Transeuntes, passantes... De onde vieram
alguns de nós bípedes?!
Desconheço quem é meu irmão nesta longa
empreitada.
Vejo invernos no olhar de homens crus onde a
cruz do sacrifício nunca valera nada.
Despontam nuvens como silos de provisões
barganhadas, num ir e vir sem sentido, ao vento,
ao léu, pobres seres humanos!
Ah! Animais indomáveis! Onde é farta a coleta
do que pertence a outrem. Pois o cultivo do
mal não pertence a ninguém?
Há sons e burburinhos vindos de todos os lados,
discursos vazios, silêncios da não transformação
que nos primitiva o espírito.
Digerimos o que um dia já fora intragável, onde
o fumo e a lama são meros instrumentos, pois
a grande avalanche está dentro de nós.
Oro aos céus pelo não desencanto...
Constato os guindastes que revolvem a terra e
erigem edifícios construindo o solo que não
pertence a ninguém.
A coragem enterrada sob a chuva de balas não
alegra as crianças, não eleva os homens, legado
de sangue não nos faz florescer para a dignidade;
religiões que não entoam um hino, não recriam canções,
não nos promete a terra nova que estaria por vir e
que já pertenceu a humana raça.
Os fatos, as fotos, imagens e mãos não nos inspiram
mais a esperança.
A violência e a fome, um corpo no trilho como
bagagem abandonada, a pedra esfumaçada dos
zumbis das cidades que vislumbram monumentos
nem de bronze, nem de ouro e nem de prata e
na lata o podre diamante da modernidade onde a
morte salta aos olhos e a vida adormece...