Hesito

O meu peito contraiu

no mesmo momento em que em algum imprescindível lugar da minha insana memória outra alguma boa palavra se alocava, e eu te olhava sorrindo como resposta ao meu desespero.

O donaire desse momento todo não se limitava nem pelo sorriso, nem pela minha admirável rapidez em converter todo esse assunto -grosseiramente vomitado em cima de mim pela ementa universitária - em graça, mas sim, pelo incerto que me transcendia enquanto eu sentia meus níveis de ocitocina despencarem bem mansinho.

Eu hesitava em olhar através dessa inóspita viajem que se criou entre você e teu sorriso. Porque ele andava por aí, sempre ausente. E agora você sorria como quem veste um roupão aveludado depois de um banho quente no dia mais frio. Sorria como se todos os tanques de oxigênio do mundo estivessem à disposição do teu benefício pra dar continuidade aquele sorriso. Sorria como se fosse a primeira peça de roupa tua que eu despia antes mesmo de te tocar. Sorria como o fez, como fiz você fazer. Fui longe na margem desse teu jeito. E logo depois senti medo de mim.

Fazia uma semana que teu aniversário já tinha se passado e eu torço pra que tenham te aplaudido fervorosamente na minha ausência. Porque até aquele momento ali, você continuava de parabéns. E, olha, mulher, acho que sempre.