FOME
A beleza rasgou o véu
trouxe a clareza
ao atravessar a rua
e encontrar o céu
com suas nuvens
entre prédios que cobrem as certezas
que eu tinha
Era tudo concreto
literalmente certo
ter o mundo
e não ter nada por perto
parecia ser o melhor
ser mais esperto
era tudo barulhento
nada lento
e descompassado
andava rápido em direção
das suas próprias queixas
dores, tristezas
angústia do mundo novo
tecnologia a serviço do homem
e o homem a serviço do fim
que será de você?
o que será de mim?
escuto a buzina
o freio
a turbina
escuto o anseio da jovem
mulher, senhora, menina
agarrada a minha retina
o semblante simpático
de um sorriso pouco apático
do modelo de perfeição
em meus sonhos de consumo ilusão
Vejo o tempo passando
o carro passando
e tudo o que eu queria era atravessar a rua
me sentir nua de todas as coisas que não fazem bem
queria perguntar sobre seu dia e o dia de mais alguém
Ser notada
ser cantada
em prosa e verso
porque tenho fome do inverso
sossego e atitude
que a paz nunca mude seu endereço
Tenho fome
do que não tem preço