Eu ainda não sei sobre o amor.
Não pode ser que essa dor tenha nome: é um vazio tão grande, um incômodo dentro de mim como uma maldita parte indissociável que veio ocupar meus pensamentos, meu espírito, minha alma. É como se eu corresse até a esquina e me cansasse em demasia: sufoca-me a ponto de faltar meu ar e minha respiração parece um vômito de sangue, como se estivesse impuro e precisasse de purificação.
Não pode ser que isso seja amor: daqueles que são eternos enquanto duram, ou daqueles que dão vida à morte, ou ainda, daqueles encontrados nos bares ou esquinas imundas, mas que fosse amor, não importando o cenário para o espetáculo da vida.
Daqueles amores de contos fadas ou daqueles que o juramento sentencia eternidade.
Daqueles que são puro tato, cheiro, língua, mão, nuca, cabelos, olhos, respiração...
É pouco que esse sentimento que não sei definir tem para me dar: eu sacio mais, busco muito mais – quero cumplicidade, briga, tapa, murro, sangue e perdão. Quero fins de semanas, terminados em dias da semana; noites terminadas em dias e dias em meses, em anos, em décadas e séculos e sonhos e mortes e além da vida.
Eu mereço mais: não haveria sentido morrer por ele – não haveria glória por sua morte nem por minha morte. Não seria como Romeu e Julieta: somente haverá minha vontade e minha mão, mas nunca a dele.
Que dádiva é morte senão terminar a vida por amor?
Que dádiva é a vida senão viver outra personalidade por amor?
Que dádiva é o amor senão vivê-lo por ele mesmo?
Sento-me exasperadamente à escrivaninha e, olhando ao horizonte, sinto o vento gélido soprar minha face e me fazer sorrir: isso é dom, isso é pureza, é arte, é vida.
Isso não é amor que sinto por ele: não posso acreditar que amar seja essa miséria. Outrora disse que o amor é o que não sei e continuo, isto, afirmando.