Como seria se não tivesse sido?

Como seria se não tivesse sido? Se eu não tivesse vivido o que vivi, hoje tudo não estaria como está.

Se eu pudesse apagar marcas, e sem elas, o que seria? O que seria daquele sorriso? Do cheiro? Daquela música? Se naquele tempo perdido eu não tivesse ganhado tanto? E se por acaso sumissem todos aqueles sonhos que foram vividos? E se não tivesse os planos que tenho? Como seria? Como eu seria?

Quem eu seria se apagasse a vida naquele tempo? Aquele tempo que tudo era novo e redundante, ruim e completo, frio e aquecedor. Naquele tempo onde os olhos viam uma mesma vida todos os dias, onde o futuro se repetia como o passado, e o presente não importava. Quem eu seria hoje se pudesse viver novamente, tudo o que não vivi? Eu seria mais leve? Teria meu riso de canto? Será que pensaria tanto? E todos os meus encantos? Eu teria esse brilho no olhar se a vida não tivesse me ensinado? A certeza, é que não posso mudar o que foi feito, e também o que não foi, mas sou o reflexo do que vivi e talvez eu possa moldar o futuro com o hoje.

Devo pensar que as marcas que trago, sou eu. Sou feita do tempo, de tudo que era novo, do presente que não me importei, de tudo que era incompleto. Hoje tomei esta forma. O que trago no peito, é meu. Meu riso hoje com certeza é mais feliz, por ser mais completa, de tudo o que poderia ter sido. E fui.

Um dia citarei novamente, num futuro, o que serei. Por ter sido hoje, por ter tomado essa forma de agora. Um dia, relembrarei o tempo de hoje e talvez minha crítica a mim mesma, esteja mais completa, mais refinada. Um dia nem lembrarei do tempo que hoje lembro, e sim do tempo que hoje vivo.

O tempo que me preserve a identidade. Que me reserve o meu eu. Eu fui. Eu sou e sempre serei o que já vivi.