Au Revoir
Eu nunca gostei de partidas e suas despedidas. Nunca. Entretanto, curiosamente, sempre as tive como parte cabal da minha história. A primeira partida que me recordo, foi a romântica cena do filme O Guarda Costas, da qual verti minha primeira lágrima sem nem mesmo entender o que significava dizer adeus. Se houvesse algum motivo, por mínimo que fosse, para que alguém escrevesse, ao meu respeito, uma biografia; tenho certeza que haveria, desde o primeiro capítulo até o último, mais de uma despedida significativa. Diferente dos livros melancólicos que, inconscientemente, preferia ler, que deixavam a despedida apenas para o final, minha vida foi senão uma sequência e consequência de despedias que se intercalavam. Ao contrário dos livros, eu colecionei partidas e, do mesmo modo, algumas lágrimas contidas. Pois, nem sempre se é forte para trasbordar. O que, às vezes, nos faz preferivelmente reprimir. E foram tantas as vezes que me senti uma represa, que já não me lembro mais das vezes que desaguei em prantos. Eu disse adeus mais de uma vez e, outras, preferi apenas calar. É possível que não me restassem mais forças para pronunciar tão pesada palavra, ou que eu tão-somente não fosse mais capaz de dar um ponto final a certas histórias, deixando-as somente subentendidas reticências, que me parecessem dar a continuidade que o destino jamais as permitiriam ter. Eu confesso ter olhado para trás e sozinho tê-los vistos irem na oposta direção, enquanto eu restava ermo a observar as pessoas indo e vindo, à medida que eu permanecia inerte na mesma cena. Em contrapartida, recordo-me que também simulei ser alguém mais forte do que, sentimentalmente, eu poderia ser. E, como um combatente, marchei em direção ao horizonte; sem medo, sem hesitar, sem olhar para trás. Como se a cada passo que eu desse, deixasse de existir o chão que havia ficado para trás ou como se não carregasse sentimentos comigo e, por capricho, pudesse simplesmente os abandonar a cada despedida e esquina que eu cruzasse, o que certamente não é verdade. Mas, francamente, admito que cada passo que dava para longe, uma parte do meu coração desabava — e, mesmo assim, nenhuma lágrima me viram chorar —. Eu jamais imaginei que que pudesse ser tão forte, e existe a possibilidade de que eu jamais precisasse sê-lo. Eu aprendi dizer adeus de muitas formas: em abruptos aborrecimentos, inflamado por efêmeros sentimentos de cólera, que não exigiam tão descomedido ato de resposta, e também disse adeus por gozar lentamente da dor que por muito habitava-me junto as sombras. Eu disse adeus quando precisei dizer, e também disse adeus quando tudo o que eu mais queria era ficar.