O que quase ninguém sabe
Pouca gente sabe desse meu medo de não ser suficiente. De passar a vida inteira pensando ser pouco perto do que desejo ser. Pior! Viver lutando por algo e, no fim, perceber que não é realmente o que desejava. Pouca gente sabe da falta de vontade que sinto para cantar no chuveiro nesses dias em que não sei o que sou, nem onde deveria estar. O fato é que é triste pensar como a alegria pode subitamente escorrer pelo ralo nesses dias densos em que não me vem sequer uma canção a mente ao ligar a torneira de água quente. Há vezes em que os males dominam o canto. Pouca gente conhece esse meu lado completamente frágil e facilmente dominado pelos meus próprios medos e dores. Esse lado que clama por um colchão à beira de qualquer lugar que não seja este, onde me encontro neste momento. Qualquer lugar que não seja dentro do meu próprio corpo. Porque aqui, agora, é o único lugar no universo onde não desejo estar. Pouca gente sabe do peso que sinto por ser eu. Não pelo caráter nem pela essência mas, principalmente, pelos meus desesperos e furacões internos que por muitas horas não cessam. Há dias em que não me reconheço no espelho. E pouca gente sabe desse meu hábito de me olhar até quase não mais enxergar quem um dia eu fui e, assim, me sentir desfazendo. Como se eu estivesse me tornando quem não sou. Mas como é que a gente sabe o que quer ser? Há dias em que só quero ter 5 anos, e outros em que desejo ir além. Mas pouca gente sabe do meu medo de arriscar e da falta de confiança que barra os meus instintos e me grita não todos os dias. Eu vejo as pessoas tão certas em seus objetivos, fazendo seus horários, aceitando suas idades e compromissos, enfim…tornando-se quem são. Eu vejo e tento me alegrar e fazer o mesmo. As pessoas dizem: comam legumes, façam ao menos uma atividade física, frequente regularmente um consultório médico, leia mais, estude, use o cinto de segurança. E eu me encosto, me aquieto e não sinto vontade de dar um passo a frente, simplesmente porque já não sei onde quero ir. Não sei quem eu quero me tornar. E por mais que eu busque saber, não encontro tal criatura no espelho. Pouca gente sabe do meu desespero por viver e da minha insegurança para apertar o botão de início. É esse o dilema que coexiste em mim, que me barra, me aperta, me aflige e me causa febre. Só espero que esse caos um dia dê à luz a uma estrela dançante.