A filha dos outros e a nossa vida

Na noite de segunda-feira, dia 6 de julho de 2015, em Uruçuí/PI, na casa de um sobrinho meu, mesmo eu não gostando mais de televisão – assisto muito pouco – eu resolvi assistir à novela “Verdades Secretas”, enquanto corrigia provas e esperava a Tela Quente. Uma cena chamou muito a minha atenção. Foi a cena em que um personagem se encontrou com sua filha. O pai esperava uma garota de programa para satisfazer, mais uma vez, seus desejos desenfreados. A surpresa do homem foi muito grande: sua filha foi a garota do dia enviada pela agência. Nem um dos dois imaginava aquele sinistro encontro.

Eu não decorei a frase, mas aquele personagem disse que não queria sua filha na prostituição. Filha dele não é para se prostituir. A reação do indivíduo foi totalmente contrária ao que ele faz com as filhas dos outros. Ele não admite que sua filha venda o próprio corpo. Não admite que sua filha faça com e para os homens o que as filhas dos outros fazem para e com ele. Em outro momento, quando foi reclamar da agenciadora de garotas, um personagem disse algo muito significativo àquele pai. Foi algo mais ou menos assim: “Lembre-se de que sempre é a filha de alguém”.

O personagem utilizado para esta reflexão passaria a ter outro comportamento, se levasse esta última frase em consideração; se colocasse em prática o ensinamento contido nesse enunciado. Ele ficou muito zangado com a dona da agência de prostituição. Ele quer que as filhas dos outros sejam prostitutas, mas não quer que sua filha entre no mundo da prostituição.

Isso não é apenas uma história de novela; não é apenas uma estória. Ainda que digam que aquele folhetim é “uma obra de ficção e sem nenhum compromisso com a realidade”, é sabido que muitos homens querem fazer com as filhas dos outros o que não aceitam que suas filhas façam com outros homens. O mundo seria melhor, muito melhor, se não fizéssemos aos outros o que não queremos que os outros nos façam.

Certa vez, alguém perguntou ao sábio chinês Confúcio: “Existe uma única palavra que possa guiar toda a nossa vida?” O mestre respondeu: “Não seria reciprocidade? O que não desejas para ti, não faças aos outros”. Na obra “Os Analectos”, encontramos muitas orientações para a nossa vida. São conversações de Confúcio. Esse livro é a obra mais importante do confucionismo. É Confúcio quem nos diz: “Nunca vi ninguém que amasse a virtude tanto quanto o sexo”. Para muitas pessoas, o sexo é a coisa mais importante do mundo. Atenção: eu não estou criticando as relações sexuais. Mas ressalto que essa prática deve ser exercida com um elemento que está se tornando raro neste mundo: o amor.

Muitas pessoas roubam, mas não querem ser roubadas. Muitas pessoas matam, mas não querem ser assassinadas. Muitas pessoas agridem as filhas dos outros, mas não querem que suas filhas sejam agredidas. Muitas pessoas falam mal da vida alheia, mas não querem que ninguém fale mal delas. Confúcio nos ajuda a não querer para o outro o que não queremos para nós. Jesus nos disse: “Faça aos outros o que você deseja que os outros façam a você”. São dois ensinamentos que se completam.

O sábio chinês disse: “Exige muito de ti mesmo e pouco dos outros; evitarás descontentamentos”. É isso que eu procuro fazer na minha vida; que estou procurando. Não quero exigir mais nada de ninguém. Eu não tenho esse direito, nem quero tê-lo. Eu quero exigir muito apenas de mim mesmo.

“Quando vires um homem de valor, procura equiparar-te a ele. Quando vires um homem sem valor, examina a ti mesmo.” (Confúcio)

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 07/07/2015
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