Da curiosidade e a escrita
Acredito que os seres curiosos veem coisas que os outros não veem, ou não lhes chama a atenção: um livro jogado no lixo; uma lata de refrigerante no mar; uma garça imaculadamente branca pousada num riacho putrefato; um passarinho cantando no alto de uma árvore, em plena cidade; o ar desapontado da pessoa que correu e não conseguiu pegar o ônibus; o balão de aniversário “enfeitando” a carrocinha do catador de papel; as flores que pendem das sacadas dos prédios; a explosão de azáleas nos meses de inverno; uma samambaia crescendo em pleno concreto; o homem lavando o telhado com máquina a vapor; a decoração natalina em pleno mês de março; a blusa que a pessoa vestiu do avesso; a quantidade de carros que cruza o semáforo vermelho, sempre buzinando; a lua cheia, imensa e alaranjada, debruçada sobre as flores das varandas; a lágrima rolando nas faces da pessoa dentro do ônibus e muitas outras coisas que me despertam a atenção e que acabam servindo de tema para meus textos.
Então vou escrevendo, desabafando, opinando, recordando, despejando no papel minhas pequenas e grandes dores, meu inconformismo, minhas emoções, minhas revoltas e meus momentos de humor.
A vida é descontrolada, é um eterno frenesi. Tudo muda a cada instante. Não só os acontecimentos se sucedem numa corrida desenfreada; as pessoas também mudam, alteram ciclicamente seu estado de espírito, seu modo de pensar, de agir.
Viver é um eterno experimentar. Não temos certeza de quase nada, vivemos em busca de explicações, de soluções. Queremos respostas, procuramos pessoas que possam dá-las, procuramos as respostas nos livros, nos filósofos, nos poetas, nas religiões, nos relacionamentos.
Mas não há respostas definitivas. Tudo aqui é inconstante, incontrolável, inexplicável!