Criança que já foi...

Acompanhado por meus alunos em uma roda de leitura, dei-me conta da criança que eu fui. Daquela criança essencialmente espontânea que podia dizer tudo, pois na maioria das vezes era desacredita. No entanto, o mais contraditório é que, ainda assim, os adultos temiam que eu dissesse alguma “besteira”, afinal a palavra de uma criança costuma ser honesta e verdadeira.

Ali, entre uma linha e uma conversa, dei-me conta do quanto esquecida está a minha criança. Na verdade, ela se encontra exilada, uma ‘criança abandonada’ sem espaço para correr, brincar, desenhar absurdos criativos, falar pelos cotovelos, encontrar outras crianças e com elas tratar de assuntos próprios de criança.

Senti saudade, uma nostalgia. Não que eu quisesse voltar no tempo em nome de um saudosismo. Tenho consciência: eu sou adulto! E isso é irreversível. Mas, fiquei pensando... como seria reencontrar com o meu ‘eu criança’? Revê-lo sorrir, contando-me coisas incríveis e agradáveis de ouvir. Encontrar-me no olho graúdo, e redondo, e preto e único de ‘minha criança’.

No meu desvario, imaginei o quanto seria reconfortante estar na presença da “criança que essa pessoa grande já foi”. Um dia eu fui criança e lá eu não estava preocupado em ‘ser’ para ‘ter’. ‘Ser’ sisudo para ‘ter’ credibilidade. ‘Ser’ competitivo para ‘ter’ destaque. ‘Ser’ subserviente para ‘ter’ mérito. Quando eu era uma criança eu nunca quis ‘ser’ o melhor, eu só pensava em ‘ser’ feliz para ‘ter’ o que lembrar hoje.

Aviso que minha criança está desperta do sono, livre para andar descalça e se molhar na chuva. Desperta para viver e não apenas ‘ser’ escravo das obrigações típicas dos adultos.

Toni DeSouza
Enviado por Toni DeSouza em 19/06/2015
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