Solidão, que poeira leve.
O que dizer diante do mundo? Solidão. Atingiu-me em cheio ao me dar conta da dimensão do mundo e da minha enorme pequenez. Mas esses sentimentos tão grandes que se tornam inteiros. Preenchem -me. E me preenchem através de um dispositivo inesperado, chamado arte. Que poder. Hoje, mais calma diante das minhas angustias, mas sem deixar de tê-las, enxergo-me de fora, num momento de absoluta metamorfose. Que delícia. Que dor. Rodopio junto com o vento. E não paro. O vento me carrega pra onde quiser. Só. E eu só sei chorar. É tudo o que posso dizer. E tentar escrever algo sobre esses sentimentos que eu nem sequer consigo acompanhar. Tamanha fluidez. Sinto-me fluida, é isso. Viva. Como um filme em branco. Como um filme que te convida a embarcar na própria solidão. Como esse, Santiago, que acabo de assistir. Não conheço Santiago, nem tenho nenhum tipo de afeto particular com aquela casa ou com aquele que narra a história. Mas são memórias. Eu sou composta de memórias também. Somos, é claro. E elas doem tanto que da vontade de gritar. As coisas vão embora e a gente insisti em cobrar da vida um pedido de desculpas, uma explicação. E o vento passa assim mesmo. Sem explicar. Apenas carrega. Carrega-me. E eu fico flutuando sobre mim mesma. Sem saber se já é hora de parar ou se deixo, finalmente, meu corpo ser levado junto dele. Porque não sei aonde vou parar. Sei que sair daqui, desse lugar do agora, não é uma opção. Porque mesmo parada, tudo é fluido, inconstante. Como o mar. E a onda que não para de me levar. Ô vida, quanta angústia alguém é capaz de carregar consigo sem se desmanchar.