Sócrates e o Lobby das armas: Um diálogo
Um dia, Sócrates (S) teve um diálogo com o Lobby das Armas (L):
L: Sócrates, você não acha justo que um homem possa portar arma e defender-se a si e aos seus?
S: Bom, podemos analisar esse tema, se for de vosso interesse.
L: Duvido que possas me convencer de que não. Penso ser justo portar arma para defender-me.
S: Não pretendo convencê-lo, mas creio que a análise possa ser proveitosa para ambos.
L: Prossigas, então!
S: Prosseguirei... Diga vós, o que entendeis por arma?
L: Bom, uma Arma é um utensílio que usamos para nos defender dos outros.
S: Entendo. E o que entendeis por defesa?
L: Bom, defesa é quando nos protegemos do outro.
S: Compreendo. Então, considerais uma arma um utensílio para que nos protejamos do outro?
L: Sem dúvida que sim.
S: E o que pensais disso: Credes que uma arma possa ser usada para atacar ao outro?
L: Sim, sem dúvida. Por isso preciso defender-me.
S: Então, podemos dizer que uma arma é um utensílio usado para defender-se de outro ou atacá-lo?
L: Creio que sim.
S: Então, uma arma pode ser usada para atacar?
L: Definitivamente, sim.
S: Entendo. Então, se não usarmos armas, haverá ataque?
L: Sim... uma pessoa pode usar a mão, ou uma pedra para atacar alguém.
S: Compreendo. Mas tua definição de arma diz que uma arma é um utensílio que permite defender-se de alguém ou atacá-lo. Isso está certo?
L: Sim, é isso mesmo.
S: Entendo. Nesse caso, podemos dizer, sem perda de justiça, que a mão ou a pedra podem ser instrumentos ofensivos?
L: Sim, é óbvio.
S: Então, como instrumentos ofensivos, mão e pedra podem ser armas?
L: (pausa) Sim, nesse caso, podem.
S: Bom, temos que arma é todo instrumento ofensivo ou defensivo, não é mesmo?
L: Sim.
S: Entendo. Conforme disseste, a arma é um instrumento para defender-se, correto?
L: Sim, foi o que eu disse.
S: Mas, caso ninguém o ataque, você precisaria defender-se?
L: Não, claro que não!
S: Entendo. Então, as armas servem para quando alguém o atacar?
L: (raiva) Sim, já o disse!
S: Desculpe se retomo os assuntos, mas preciso disso para prosseguir com nossa análise.
L: Pois prossiga, então!
S: Então, em não havendo alguém que use uma arma contra vós, não precisareis de arma?
L: Mas já disse, alguém pode usar uma pedra, ou a mão.
S: Mas tu o dissestes, e enunciamos, que arma é todo utensílio usado para atacar ou defender-se, não é mesmo?
L: (relutante) É, é mesmo... uma mão pode ser uma arma...
S: Então, se não usarem armas contra vós, incluindo a mão, por exemplo, precisareis de armas?
L: (pausa) Não, nesse caso não...
S: Se não houver quem use utensílios como armas, alguém precisará de armas?
L: (relutante) Realmente, agora eu o entendo! Se a arma é um utensílio usado para a agressão ou defesa de agressão, em não havendo agressão, não haverá necessidade de defesa de agressão, logo não há necessidade de armas, nem para agressão, nem para a defesa! Se não há armas para o ataque, não é necessário armas para a defesa...
S: Entendo... A mim parece boa vossa análise. O que achais dela?
L: Parece estranho pensar assim, mas há forte lógica em tua análise.
S: Na verdade, a análise foi vossa. Fui apenas a parteira.
Fim.
* Pelo fim das armas no mundo. Sejam elas palavras, pedras, mãos, carros, bombas ou revólveres.