A Parábola Do Bem E Do Mal

Deus e o Diabo desceram à Terra, perante uma multidão que transitava entre o medo e a esperança, a fim de medirem forças.

Deus não tinha rosto nem forma, enquanto o Diabo tomara a forma de um popular político norte-americano dos tempos da Guerra Fria. Indecisa, a humanidade não sabia por quem torcer, pois há tempos perdera os conceitos de bem e mal.

Antes que começassem a batalha, Deus pediu ao povo que orassem por Ele. Satanás pediu apenas um voto de confiança.

Diante da turba, Deus fez chover perfumadas pétalas de rosa. Por sua vez, o Diabo fez brotar fogo da terra.

Então o Todo-Poderoso fez soprar um vento gélido, porém, balsâmico, que logo extinguiu as chamas. Com isso, muitas beatas prostraram-se no solo da batalha, fazendo suas vozes ecoarem no ambiente: Deus seja louvado!

Mas, a uma simples ordem do gênio do mal, as pobres mulheres ensandeceram de volúpia, perdendo todo o pudor e a decência, revelando a sua nudez. Em seguida, passaram a oferecer-se aos homens, às demais mulheres, já pouco recatadas, do populacho e ao próprio Diabo, como verdadeiras prostitutas.

Triunfante, o Diabo sentenciou:

_ Seu esforço é inútil. O Senhor os criou, é certo. Entretanto, é a mim que estes seres movidos pelas paixões, escutam.

Sem se perturbar, Deus rematou:

_ De hoje até o fim de mil anos, Satanás reinará sobre a Terra.

_ Prometo um período de gozo, prosperidade e liberdade, como nunca se vivera até aqui _ proclamou o Diabo.

No milênio governado pelo Diabo, houve um recrudescimento de todas as formas de violência, do assassínio, guerras, corrupção, cobiça, desigualdade social, fome, devassidão sexual e doenças. Surpreendentemente, a ciência retrocedera durante o reinado do mal e a solidariedade humana quase fora levada à extinção, sufocada por tanto desamor, até que completados os mil anos, Deus reapareceu:

_ E então, meus filhos, vocês ainda querem continuar sendo governados pelo Diabo?

_ Por favor, Senhor! _ prorrompeu a multidão de ricos ou esfarrapados em súplicas e lágrimas _ Já não podemos suportar tanto sofrimento. Nós Te pedimos humildemente: expulse o Diabo da Terra.

Malicioso e matreiro, como da outra ocasião, o demônio ordenou que algumas desventuradas mulheres se despissem e se prostituíssem. Mas exibindo corpos enfermos, dilacerados pela miséria e principalmente pelas doenças venéreas, elas não o obedeceram.

Deus ordenou que o Diabo fosse aprisionado nas profundezas do orbe por mais mil anos. Determinou também que os seguidores daquele demônio, agora em número reduzido, fossem encarcerados, a fim de que não pudessem mais causar perturbações no mundo. E assim foi feito.

Passados os mil anos, cansado de tantos padecimentos e da solidão das trevas, o próprio gênio rebelde finalmente abandonou a ideia do mal, rendendo-se ao supremo bem.

Pode demorar um pouco, mas um dia a humanidade compreenderá que o mal é uma experiência fadada ao fracasso.

Deus não tem pressa, todavia, os homens terrenos têm se demorado em demasia a se decidirem pelo bem – único caminho que nos conduz à verdadeira felicidade.

NOTA: na parábola, o Diabo é apenas uma figura alegórica da qual nos servimos para a representação do mal, não devendo portanto, ser tomado aqui como um ser de existência real.