A cá de lado de dentro

Há algum tempo estou cá em mim. Usaria a palavra refletindo, mas ela não seria tão adequada para a ideia. Então, irei começar novamente.

Há algum tempo estou cá em mim. Usaria a palavra pensando, mas ela também não é tão adequada para a ideia. Então, irei começar novamente.

Há algum tempo estou em mim, investigando meu paradoxo universal. De formas sem formas de formas e outras formas não exatas, como se fosse um fluido não newtoniano que também não é. É metamorfose sem definição e também não é.

Penso em português e uma língua inventada que não sei qual é. Fui picado por um mosquito. Brincar de fazer coisas, qualquer coisa. A notícia de brincar de fazer coisas se dissolve. Depois a ideia de brincar de fazer coisas volta em ideia de brincar de fazer coisas e é outra. O motivo de perder a ideia de brincar de fazer coisas é porque eu não amarrei a ideia de fazer coisas no poste. Daí já não é brincar de fazer coisas é fazer coisas mesmo.

O poste, o poste. O poste na verdade não adianta em nada. Tem que ser mesmo igual a passear com minha cadela. Brincar, ficar atento, andar pra frente com nenhum rumo e fazer coisas e pedir água e um pote. A picada do mosquito está inchada no meu pescoço. E, deve ser igual à picada de mosquito também.

Agora estou a dez metros do fundo do mar, nadando, sem a máscara de oxigênio. Eu pego o oxigênio que tem na água mesmo e olha que as moléculas de oxigênio são minoria e é por isso que eu criei brânquias em mim. Brânquias são legais, elas ficaram bem no inchado da picada do mosquito. Mosquito traquina.

Estava aqui reparando, reparando, a parede branca do meu quarto branco. Não estou vendo não, é porque eu sei mesmo. Agora a vinte metros de profundidade. O quarto quadrado que, não é quadrado, é um fluido não newtoniano e não é. Estava aqui pensado, o mundo tem dois quartos, um você está dentro e o outro está dentro de você. São iguaizinhos do jeito que você olha.

Estou a vinte metros, estou tentando ir mais fundo, só um pouquinho mais, pra investigar a razão de não brincar de fazer coisas. É tudo não nítido aqui em baixo. E, se não é nítido se sabe o que é, mas tem forma e tempo e não tem. Então, é tudo suposição mesmo. Que falta de certeza e que acúmulo de certeza. Que tédio. Não, tédio não.

Sabe, estou aqui tentando e tentando. É realmente muito difícil escrever algo de si para si e si. Sem envolver segundos e terceiro e quartos e quintos e sextos e sétimos e etc com dois e’s. É tão viciante esse meu jeito de me casar na igreja que fico até meio com a graça de ser sem graça e tão chato que nem eu me aguento a chatice. Ufa! Eu disse.

Tenho mesmo é que me empenhar em ser só eu mesmo. E mergulhar até encontrar uns barcos afundados com tesouros piratas de mais de seiscentos e oitenta anos, no mínimo. Não que os antes disso não tenham alguma espécie de valor, é claro que tem. Acontece que eu tenho fixação por tralhas antigas mesmo. Pelo menos, eu já consegui metamorfosear a picada do mosquito traquina em brânquias pra catar as moléculas de oxigênio da água do mar. Por enquanto é só isso mesmo, talvez mais tarde eu venha me dizer alguma novidade.